Título: Troca na Cultura deflagra reforma na equipe de Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Nacional, p. A7

Objetivo do governador é reconquistar maioria perdida na Assembléia para poder governar em paz

A queda da secretária de Cultura de São Paulo, Cláudia Costin, anunciada ontem, é o primeiro passo para uma ampla reforma na base política do governador Geraldo Alckmin, destinada a devolver-lhe a maioria perdida na Assembléia Legislativa paulista. O novo secretário de Cultura será indicado pelo deputado Arnaldo Jardim, do PPS; ontem à noite, o nome cogitado era o do cineasta João Batista de Andrade. O governo criará a Secretaria de Turismo, que será entregue a outro aliado antigo, o PL. O PMDB e o PP também acertaram a adesão à base aliada de Alckmin. Resolver a questão da maioria na Assembléia e governar em paz daqui por diante é o primeiro dos quatro desafios que o governador se impôs para preparar sua campanha à Presidência da República. Os quatro desafios, programados para serem anunciados um após o outro e, assim, dar torque e confiança à campanha de Alckmin, como resposta para conter a ansiedade que boa parte do PSDB demonstrou nos últimos tempos, preocupado com a postura low-profile do governador.

COM O PFL

Logo após resolver a maioria na Assembléia, Alckmin se dedicará ao segundo desafio, restaurar uma aliança confiável com o PFL - desmoronada há dois meses quando o PFL estadual se aliou ao PT e ganhou a presidência da Assembléia - e a consolidar um pacto com seu vice, Cláudio Lembo, que assumiria o governo em abril de 2006, quando (e se) Alckmin se desincompatibilizar para concorrer à Presidência. Nas últimas semanas Alckmin ficou muito satisfeito, segundo informantes tucanos, com as discretíssimas conversas que teve com cardeais pefelistas, como Jorge Bornhausen e Antônio Carlos Magalhães.

Ainda em maio, Alckmin começa a enfrentar o terceiro desafio, as generosas aparições nos programas de televisão do PSDB em nível nacional e regional. Nesses programas, o PSDB vai exibir, com profusão de imagens, as suas principais estrelas - Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Aécio Neves e o prefeito José Serra - e testar o mote que escolheu para a campanha de 2006 - a ineficiência do governo Lula.

Em junho, o governador começa a enfrentar o quarto desafio para consolidar as bases da campanha: com freqüência cada vez maior vai atender aos muitos convites para eventos em outros Estados. A idéia é graduar as aparições para, pouco a pouco, se fazer conhecido fora de São Paulo. Ontem Alckmin esteve em Porto Alegre, onde participou de um evento com empresários e aproveitou para conversar mais uma vez com o governador Germano Rigotto (PMDB).

MAIORIA

Além de manter em sua base o PPS e o PL, o PSDB conseguiu recuperar dois deputados do PFL e acertou-se com o PMDB e o PP. Com essas novas adesões, o governo Alckmin vai poder contar com uma maioria relativamente folgada de 52 votos numa Assembléia de 94 deputados, revertendo o quadro negativo que se formou na derrota na eleição da Mesa, em fevereiro.

Mas o principal aspecto da estratégia montada por Alckmin é dar resposta às cobranças do PSDB, que estava preocupado com sua excessiva discrição e a resistência a "dar uma largada", mesmo contida, para 2006. O partido não pediu-lhe que saísse em campanha, mas que, mesmo discretamente, desse sinais de que tem disposição para ser candidato. É o que ele vai fazer, daqui por diante.