Título: Após ameaça, interventor no Rio recebe granada de efeito moral
Autor: Rodrigo Morais
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Nacional, p. A12

Uma ligação anônima avisou que o tempo do médico Sérgio Côrtes havia se esgotado; artefato encontrado libera talco RIO - Ameaçado de morte 17 vezes no último ano, o médico Sérgio Côrtes, coordenador do comitê que interveio em seis hospitais cariocas, denunciou ontem ter sido alvo de uma nova tentativa de intimidação. Por volta das 12h30, uma recepcionista do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio (Nerj) recebeu um telefonema anônimo com um recado para ele. O desconhecido disse que o tempo do médico estava esgotado e que a sala de reunião, ao lado do gabinete de Côrtes, explodiria. Policiais federais que fazem a segurança de Côrtes realizaram uma varredura na sala de reunião e encontraram uma sacola atrás do aparelho de televisão. Quinze minutos mais tarde, uma equipe do Esquadrão Antibombas da Polícia Civil chegou ao local e encontrou um artefato - identificado mais tarde como uma granada de efeito moral, modelo GL 304, que "ao explodir libera talco".

A assessoria de Côrtes informou que, simultaneamente ao telefonema para o Nerj - no qual o auditor do Ministério da Saúde Carlos Alberto Oliveira também foi citado -, o assessor jurídico da pasta Adílson Bezerra recebeu uma ameaça telefônica em Brasília. A mensagem era idêntica: seu tempo estava esgotado. Bezerra, que é delegado da Polícia Federal e faz a própria segurança, já disse à imprensa que as ameaças a Côrtes sempre foram extensivas a ele.

INQUÉRITO

As ameaças a Côrtes, diretor do Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into), e sua equipe começaram em 2003. Há uma investigação na Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da PF, mas até hoje ninguém foi preso. A assessoria da PF informou que o fato de ontem será relatado no inquérito, de número é 530/2003.

Depois que seu gabinete no Into foi invadido, ainda em 2003, Côrtes passou a andar com escolta policial. Na ocasião, os invasores simularam um enforcamento usando um jaleco e uma gravata. Isso ocorreu depois de o médico ter assumido a direção do hospital, em setembro de 2002, e pedido a revisão de 50 contratos, obtendo uma economia de cerca de R$ 3 milhões por ano, segundo o ministério. Por dois anos, Carlos Oliveira presidiu as auditorias na unidade.

Côrtes e Bezerra já receberam diversas ameaças por carta, a última delas em março. A carta foi deixada na caixa de correio do consultório particular do ortopedista, em Ipanema (zona norte). Além de detalhes sobre a rotina pessoal de ambos, o texto cita por duas vezes o ministro da Saúde, Humberto Costa, uma delas ao dar o seguinte ultimato: "Se o ministro não te demitir até sexta, a gente vai dar um passeio (...) e encher você de prego."

Ao saber das ameaças, Costa entrou em contato com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que prometeu reforço para a segurança dos servidores e para o prédio do Nerj. O Estado tentou localizar Bezerra e Côrtes, mas, segundo a assessoria, por orientação da PF, eles não deveriam falar com a imprensa.