Título: China não pede desculpas
Autor: Reuters, EFE e AFP
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2005, Internacional, p. A8

A China informou o Japão que não vê nenhuma razão para pedir desculpas pelas violentas manifestações antijaponesas que vêm ocorrendo em todo o país, informou a chancelaria chinesa. "O governo chinês jamais fez naqualquer coisa que justifique pedir perdão ao povo japonês", disse o ministro das Relações Exteriores chinês, Li Zhaoxing, ao fim de uma reunião com o colega japonês, Nobutaka Machimura, que foi à capital chinesa tentar reduzir a tensão entre os dois países. Tóquio suspeita que o governo chinês nada faz para conter os protestos e até os estimula. Machimura pediu a Pequim indenização pelos danos causados às propriedades japonesas pelos manifestantes.

"O principal problema é que o governo japonês tem feito uma série de coisas que ferem o sentimento do povo chinês, especialmente o tratamento que tem dado à história," disse Li.

Os chineses ficaram furiosos com a adoção pelas escolas japoneses de um livro de história que omite atrocidades cometidas pelos militares japoneses em território chinês de 1931 a 1945. Segundo os chineses, além de nunca pedir perdão pela tortura e genocídio de chineses, o Japão lança uma pá de cal nesses dolorosos episódios.

Com base naquele capítulo da história e também por ambições hegemônicas na Ásia, tanto políticas quanto econômicas, os chineses opõem-se radicalmente à reivindicação dos japoneses de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

"A China não nos ofereceu nada, nem desculpas nem indenização pelos danos causados", lamentou o porta-voz da chancelaria japonesa, Hatsuhisa Takashima.

Segundo a agência japonesa Kyodo, Machimura lamentou profundamente a atitude chinesa, mas convidou o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, a visitar o Japão.

O chanceler japonês chegou a Pequim sábado em meio a ruidosos protestos contra o Japão em Xangai, que mobilizaram mais de 30 mil e logo se alastraram a outras cidades.

Em Xangai, manifestantes lançaram "bombas" de tinta e ovos sobre o consulado japonês e quebraram vidraças de empresas e restaurantes japoneses.

Segundo um porta-voz do consulado, dois japoneses ficaram levemente feridos. Xangai abriga várias multinacionais japonesas e milhares de cidadãos japoneses.

A Hong Kong Cable Television informou que os protestos ocorreram em pelo menos dez grandes cidades chinesas, incluindo Dongguan e Chengdu, no sul. Em Dongguan, 2 mil trabalhadores chineses da empresa japonesa Taiyo Yuden Co. entraram em greve por tempo indeterminado.

Milhares de chineses marcharam elas ruas centrais de Hong Kong, gritando lemas contra o Japão e lembrando as atrocidades cometidas nos anos 30 e 40.

Ontem, os protestos continuaram em Shenzhen, com 10 mil nas ruas.

Temendo represálias por parte dos japoneses, o governo de Tóquio reforçou o policiamento em torno da embaixada e consulados da China e residências de chineses no país.

Em Osaka, oeste do Japão, um homem lançou uma garrafa contra a sede do consulado chinês e ateou fogo nas roupas quando policiais tentaram prendê-lo. Na capital, grupos de extrema direita, usando megafones, tentavam incitar a população a responder aos protestos chineses.