Título: Condoleezza pede calma e eleições
Autor: Paulo So
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2005, Internacional, p. A9

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pediu ontem aos equatorianos que fiquem calmos e respeitem os procedimentos constitucionais. Ela manifestou o interesse de Washington a ajudar o país andino a buscar uma solução estável, com novas eleições, para a crise política que levou ao impeachment do presidente Lucio Gutiérrez. "Estamos simplesmente pedido a todos para manterem a calma, não deve haver nenhuma violência", afirmou Condoleezza durante uma entrevista coletiva em Vilna, onde participou de uma reunião com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "O que é preciso agora é um processo constitucional que leve a eleições."

A chefe da diplomacia americana deu uma espécie de endosso ao vice-presidente Alfredo Palácio, que assumiu a presidência, dizendo que ele mantém diálogo com Washington. Ela também conclamou os vizinhos do Equador a envolver-se na busca de uma solução. "Esse é realmente um momento para toda a região, em particular, e para a comunidade internacional a tentar pôr um processo democrático e um processo constitucional lá (no Equador)", disse.

O fato de Gutiérrez ter caído apenas dias antes de Condoleezza iniciar sua primeira viagem como secretária de Estado à América do Sul deu uma urgência especial à crise equatoriana em Washington. O tema certamente terá um lugar destacado na agenda de conversas de Condoleezza em Brasília, a primeira escala da viagem, que incluirá também Chile, Colômbia e El Salvador.

"O que aconteceu em Quito é parte de um padrão mais amplo nos países andinos", disse ao Estado Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano e um estudioso da região. "O Equador havia sido diferente dos outros países andinos até agora, no sentido de que suas crises não foram violentas - daí a preocupação de Washington para que todos fiquem calmos", explicou.

"Ao mesmo tempo, é talvez o país mais fragmentado da região, com diferenças muito grande entre as diferentes cidades e regiões, e há o temor de que as coisas saiam do controle", acrescentou.

Segundo Shifter, a declaração de Condoleezza sinaliza a expectativa de Washington de uma mobilização que envolva o Brasil e de outros países da região na montagem de um mecanismo que permita às forças políticas locais a buscar um entendimento sob o patrocínio dos vizinhos.

"Os EUA não identificavam Gutiérrez com (o presidente da Venezuela Hugo) Chávez e estavam razoavelmente satisfeitos com ele. O mesmo acontecia com o Fundo Monetário Internacional. Gutiérrez estava longe de ser considerado o líder ideal, mas era visto como a melhor alternativa, entre as disponíveis, e vinha colaborando com os planos de Uribe na Colômbia", afirmou Shifter. Segundo o especialista, "Nem Washington nem ninguém na região tem uma solução ou sabe o que deve ser feito, além de se buscar desenvolver algum tipo de processo que permita a restauração da estabilidade."

REPERCUSSÕES

A União Européia pediu ontem ao governo e às forças políticas do Equador que encontrem "uma solução pacífica, consensual e negociada que permita um retorno rápido à normalidade constitucional".

Em uma declaração divulgada por Luxemburgo, presidente de turno da UE, os 25 países membros deploraram as mortes ocorridas durante as manifestações e se mostraram "muito preocupados pela instável situação política e social no Equador".

O chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, pediu ontem aos equatorianos que resolvam a crise por meio do diálogo e "estrito respeito à institucionalidade democrática" e manifestou a disposição da Espanha de contribuir na solução de conflitos na América Latina, "internos ou regionais".

A Guatemala manifestou sua preocupação com a situação no Equador, assim como a Colômbia que compartilha uma conflitiva fronteira de 586 quilômetros com o país.