Título: Secretária faz apologia do livre comércio
Autor: Denise Chrispim Marin Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Nacional, p. A4

Em sua palestra no Memorial JK, a secretária de Estado americano, Condoleezza Rice, deixou claras as três premissas econômicas que o governo George W. Bush pretende difundir junto com sua plataforma em prol da democracia. Primeiro, que o livre comércio é uma mola propulsora do desenvolvimento. Segundo, que os Estados Unidos estão dispostos a eliminar os subsídios agrícolas nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Por fim, que o desenvolvimento econômico não deve atropelar os objetivos de preservação do meio ambiente. Para cada uma delas, Condoleezza desenvolveu um sucinto raciocínio e deixou uma mensagem aos condutores da política econômica e comercial do Brasil.

Ao acentuar os efeitos benéficos da liberalização comercial, a secretária de Estado remeteu indiretamente aos compromissos do Brasil de "energizar" as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), abandonadas desde fevereiro de 2004.

Ao mencionar o fim dos subsídios agrícolas, repetiu a conhecida estratégia americana para a Rodada Doha da OMC, voltada para a liberalização do comércio mundial. Ou seja, que Washington concordará em acabar com tais subvenções se a União Européia e outros parceiros se comprometerem a seguir a mesma linha.

FRONTEIRA AGRÍCOLA

O pretexto para essas exposições surgiu curiosamente com a pergunta de Rosimere Teles, da tribo Arapasso, localizada no Alto do Rio Negro, no Amazonas. Em uma lógica que provocaria taquicardia nos melhores negociadores comerciais brasileiros, a representante dos índios na palestra proferida por Condoleezza no Memorial JK questionou-a sobre a hipótese de o fim dos subsídios agrícolas acarretar a expansão da fronteira agropecuária no País, em detrimento das áreas de preservação ambiental na Amazônia.

"Não devemos colocar a questão ambiental contra a de desenvolvimento econômico. Eles têm de avançar juntos", afirmou a secretária de Estado, ao destacar a terceira premissa.

"A maneira como se deve tratar o desenvolvimento econômico e o comércio no futuro é reunir todas essas preocupações e discuti-las. Os subsídios agrícolas têm de terminar. Os Estados Unidos disseram que, no contexto da OMC, se pudermos terminar com todas as subvenções agrícolas, estamos dispostos a fazê-lo", explicou.

Condoleezza aproveitou o momento para destacar que é "animador" o fato de, no Brasil, "qualquer pessoa poder apresentar suas reivindicações" ao governo.

Mas logo lembrou que, nas democracias, as demandas de minorias étnicas e a proteção ao meio ambiente estão mais presentes que nos regimes autoritários, nos quais "os líderes não prestam contas a ninguém".