Título: Software livre já invadiu a indústria
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2005, Economia, p. B9

Os softwares livres - programas de computador que podem ser modificados e copiados livremente por seus usuários - deixaram de ser passatempo de fanáticos por computador e já estão incorporados à indústria brasileira de software. Esta foi uma das conclusões de uma pesquisa da Universidade de Campinas (Unicamp), feita com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia e divulgada ontem, após um ano de elaboração. Foram ouvidos 3.657 desenvolvedores de programas, além de especialistas e empresas. O trabalho foi encomendado pela Associação para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex) para auxiliar nos debates sobre a política de software livre no País. A discussão mais acalorada gira em torno do PC Conectado, programa do governo que pretende estimular a venda de 1 milhão de computadores populares, com acesso à internet, por menos de R$ 1.400.

O programa previa apenas o uso de programas livres, 26 no total, sem pagamento de licença. Mas o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, é contra a exclusividade. A decisão final deverá ser tomada nos próximos dias pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o presidente da Softex, Valdemar Borges, esse debate entre software livre ou proprietário acaba sendo dominado pela emoção, e os dados da pesquisa podem trazer mais racionalidade. A pesquisa mostra, por exemplo, que 53% dos desenvolvedores de software livre estão em empresas privadas. Apenas 13% estão em órgãos públicos e 10% em universidades. E mais da metade das empresas que fazem software livre também fazem softwares proprietários.

Segundo o coordenador da pesquisa, o professor da Unicamp Sérgio Salles, 64% dos usuários de programas livres são grandes empresas, que faturam mais de R$ 1 milhão e têm mais de 99 funcionários. Elas buscam reduzir custos, e segundo Salles esse movimento condenará à extinção o monopólio da Microsoft em alguns tipos de programas.

O programa Linux, um dos mais conhecidos softwares livres e concorrente do Microsoft Windows, já movimenta US$ 3,5 bilhões em produtos e serviços no mundo, e deve atingir US$ 14 bilhões até 2008. No Brasil, esse mercado é estimado em US$ 77 milhões, e deve triplicar em três anos.

O presidente do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), Sérgio Amadeu, disse que o apoio do governo ao software livre já traz frutos ao Brasil. "A Nokia não veio para o Brasil à toa, ela ia para a Índia", afirmou, referindo-se à decisão da empresa de instalar no País um centro de pesquisa de softwares para telecomunicação móvel. Ele é um dos defensores de softwares livres no PC Conectado. "Se fizer com software proprietário, vai continuar o incentivo à pirataria."