Título: Instituto deixa de fazer peças de estação espacial
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2005, Vida&, p. A22

Desde novembro, a produção das peças que serão fornecidas pelo Brasil ao projeto da Estação Espacial Internacional (ISS) não é mais feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), como estabelecia o projeto inicial, com base no plano plurianual 2004-2007 da Agência Espacial Brasileira (AEB). Para o tecnologista do Inpe Petrônio Noronha de Souza, a mudança é uma "adequação" da parceria firmada entre a AEB e a agência espacial americana (Nasa). Em 1997, o País havia se comprometido a produzir seis equipamentos diferentes, incluindo transportadores de materiais e janelas, em quantidades diversas, em um investimento de US$ 120 milhões. "Mas o custo superava o que o governo queria investir, então o plano ficou mais modesto", diz Souza. Como contrapartida, a ISS receberia experimentos e um astronauta brasileiro, o major Marcos Cesar Pontes, que já passa por treinamento espacial na Nasa.

Para a AEB, o passo adequado com o tamanho das pernas é a produção de placas adaptadoras que auxiliam no transporte, armazenamento e manuseio de equipamentos pela tripulação da ISS. As peças serão montadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em um acordo divulgado pela AEB nesta semana. O orçamento aprovado no plano plurianual é de US$ 8 milhões para quatro anos, após uma negociação difícil entre o Brasil e os países que compõem a ISS.

O Inpe não tem mais nenhuma ligação com o desenvolvimento das peças. O pequeno prédio onde o projeto era conduzido, na sede do instituto em São José dos Campos, está praticamente vazio, ainda que boa parte do acervo e do conhecimento produzidos nesse período permaneçam lá.

Originalmente, o Inpe também era responsável pelos testes ambientais e de desempenho das peças antes do envio para os Estados Unidos, que seriam realizados no Laboratório de Integração e Testes (LIT) - o maior do gênero no Hemisfério Sul. O espaço é usado para validar satélites como o CBERS-2B, que está atualmente sendo montado no local, com previsão de lançamento no ano que vem. O laboratório também realiza testes de produtos para empresas como Johnson&Johnson e Petrobrás, serviço que gerou US$ 2 milhões no ano passado.

"A participação do Inpe neste novo processo ainda não foi negociada", explica Souza. Segundo ele, como a transferência de tecnologia ainda é recente, detalhes como a utilização do LIT para a realização de testes das placas feitas pelo Senai ainda não foram fechadas. "O espaço não é de uso exclusivo da AEB e vem sendo ocupado por outros programas", diz. Contudo, ele não acredita que uma demanda apresentada pela agência seja desprezada. "Ela tem uma posição privilegiada."

O LIT foi inaugurado na década de 1980 pelo então presidente José Sarney. Em 18 anos de atividades, já foram gastos US$ 900 milhões - apenas uma câmara de estudo das ondas eletromagnéticas custou US$ 15 milhões. O gerente da área de Compatibilidade Eletromagnética e Telecomunicações do laboratório, Benjamim Galvão, admite que é um investimento elevado para um país como o Brasil. "Claro que, se você pensar secamente no que é mais importante investir hoje, escola ou espaço, a resposta é fácil", afirma. "É muito difícil mensurar a relação entre custo e benefício da ciência. Mas você também pode pensar que esse conhecimento pode gerar produtos, que por sua vez geram mais renda, que são investidos na melhoria da vida de toda a população do País."