Título: Lula acha a publicação uma 'bobagem e perda de tempo'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2005, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros que formam o núcleo central do governo foram pegos de surpresa pela edição da cartilha. Depois de ver a publicação e verificar que ela considerava pejorativos termos como "comunista", "bêbado", "peão", "branquelo", "sapatão", "funcionário público" e "barbeiro", os integrantes da cúpula do governo acharam que a publicação é uma "bobagem, uma perda de tempo e um irradiador de confusão sem motivo algum", narra um dos integrantes deste núcleo. Num encontro entre ministros, a cartilha foi ridicularizada. E há até a informação de que Lula não entendeu por que o termo "peão", tão utilizado por ele, está lá. A cartilha foi encomendada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos à Fundação Universidade de Brasília, que terceirizou o serviço de coleta das expressões tidas como politicamente incorretas, empreitando o serviço para o jornalista Antonio Carlos Queiroz, um antigo militante comunista. Exatamente por causa dessa condição do jornalista, ministros próximos de Lula ficaram surpresos ao constar, lá na cartilha, como pejorativa, a expressão comunista. É que todos os comunistas - hoje agrupados no PC do B, PCB ou em alguma organização não legalizada - têm orgulho de falar de sua condição ideológica. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que é do PC do B, por exemplo, sempre enche o peito quando fala que é comunista.

Outro fato que chamou a atenção foi a adoção de termos que podem não ser de conhecimento geral. "Baianada", como sinônimo de quem é inábil no trânsito, é utilizado em Brasília mas é desconhecido, por exemplo, em Mato Grosso, no Pará, Maranhão e noutros Estados do Norte e Nordeste. O presidente Lula gosta quando o chamam de "baianinho", embora seja pernambucano. E quando se referem a alguém que é barbeiro no trânsito - termo também tido como pejorativo -, os moradores de Brasília, mais que "baianada", costumam usar mais "goianada", expressão também no índex da cartilha.

Outro expressão que causou grande surpresa a Lula e aos ministros foi "funcionário público". Para afirmar que o termo é pejorativo, os autores dizem que desde o governo de Fernando Collor (1990/1992), "há uma sistemática campanha de desprestígio contra o serviço público para justificar a política do Estado mínimo do modelo neoliberal". Por isso, de acordo com a cartilha, "os trabalhadores dos órgãos, entidades ou empresas públicas preferem ser chamados de servidores públicos". O texto termina assim: "Com isso, querem enfatizar que servem ao público mais que ao Estado."