Título: 'Quem faz maquiagem é a Natura'
Autor: Irany Tereza e Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2005, Economia, p. B6

RIO - "Quem faz maquiagem é empresa de cosmético, como a Natura". Com esta declaração irônica, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, iniciou a resposta às acusações de seu antecessor, Carlos Lessa, de que o lucro do banco em 2004 teria sido alterado para reduzir o valor da contribuição ao Imposto de Renda e os dividendos ao Tesouro. "Para fazer uma afirmação destas, ele (Carlos Lessa) não deve estar inteirado da contabilidade do banco", comentou Mantega. Mais tarde, ao Estado, ele explicou que o banco paga IR sobre o lucro contabilizado antes dos provisionamentos. Portanto, sustenta, a direção do BNDES não alterou o resultado para sonegar imposto. "Não fiz e não farei maquiagem de balanço." Pelas contas apresentadas por Mantega, o total provisionado foi de R$ 2,6 bilhões, sendo cerca de R$ 1,5 bilhão em dez meses da gestão Lessa e R$ 1,1 bilhão já em sua gestão, após novembro.

Por estes números, caso não tivesse havido necessidade de provisionamento, o lucro do banco, divulgado em R$ 1,497 bilhão, teria ultrapassado R$ 4 bilhões, ou seja, acima dos R$ 3 bilhões anunciados por Lessa. "No ano passado pagamos R$ 768 milhões de Imposto de Renda e R$ 276 milhões de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, o que dá R$ 1,044 bilhão", disse Mantega. Juntas, estas contribuições correspondem a cerca de 25% do resultado do banco.Já a parcela de 25% em dividendos destinada ao Tesouro incide sobre o lucro líquido.

"Obedecemos o que a legislação manda em relação à aplicação das regras de contabilidade. Foi pura e exclusivamente isso. As contas foram examinadas e aprovadas pelo Conselho Fiscal, do qual participa o secretário do Tesouro (Joaquim Levy), que é muito rigoroso. Foram auditadas pela Ernest Young, empresa internacional contratada na gestão anterior. Ele (Lessa) talvez até ignore que tenha provisionado recursos em sua administração", afirmou o presidente do BNDES.

Mantega disse que continuará a desenvolver produtos para "empresas de todos os tamanhos". Outra crítica de Lessa foi dirigida ao programa de aprovação quase automática de projetos de continuidade de grandes empresas, que classificou como "cartorialização do BNDES". "Estamos beneficiando desde as micros às grandes empresas. Para cada segmento, há um produto diferente. Todos os técnicos do banco estão trabalhando em minha gestão, o que na época dele (Lessa) não sei se aconteceu", respondeu Mantega.