Título: Palocci quer propostas para conter alta do real
Autor: Lu Aiko Otta e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2005, Economia, p. B4

Preocupado com o efeito da alta taxa de câmbio sobre a economia brasileira, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pediu a representantes do setor privado que "qualifiquem melhor" o debate. Em outras palavras, ele quer que a discussão saia da simples chiadeira dos setores que estão perdendo com a valorização do real sobre o dólar para uma compreensão mais ampla do problema e alternativas que poderão ser adotadas. Discretamente, o ministro discutiu esse problema com um grupo de empresários que estiveram no Palácio do Planalto, na quinta-feira passada, para a reunião extraordinária do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI).

De acordo com um dos participantes, Palocci considerou a conversa "um bom debate", mas pediu um aprofundamento. No governo, circula a avaliação de que a alta do real em relação ao dólar tem duas faces, mas só se discute uma: a perda de competitividade dos exportadores. O outro lado é que setores importadores tiveram ganho com a desvalorização da moeda americana, que não foi repassado aos preços.

A discussão sobre câmbio foi uma conversa reservada, no Palácio do Planalto, após a reunião do CNDI. Também participou do encontro o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, um dos maiores críticos da falta de ação do governo para enfrentar o processo de valorização do real.

PREOCUPAÇÃO

Apesar do tom sempre otimista de Palocci nas suas aparições públicas, técnicos da área revelam que há uma preocupação real com o impacto sobre os resultados da balança comercial daqui a alguns meses. Uma inflexão no até agora excelente desempenho do comércio exterior poderia contaminar decisões de investimento.

Técnicos avaliam ser possível acelerar a implementação de um pacote de medidas que já estão em estudo para reduzir o custo das exportações. As medidas estão concentradas nas áreas de desoneração tributária, melhoria da logística e ampliação das mudanças nas normas cambiais e alfandegárias que permitam a redução da burocracia.

A medida que está mais madura e deverá ser divulgada em breve pelo governo é a desoneração dos tributos que incidem sobre máquinas e equipamentos utilizados em novos investimentos. Essa medida beneficiaria principalmente empresas que exportam a maior parte da sua produção. Havia uma expectativa de que fosse anunciada anteontem, na reunião do CNDI, mas a medida foi adiada porque Palocci e Furlan decidiram discuti-la um pouco mais. Havia dúvidas sobretudo sobre a desoneração dos softwares.