Título: Meirelles e mínimo podem ser novas vítimas de desarticulação do governo
Autor: Eugênia Lopes e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2005, Nacional, p. A10

As próximas vítimas da desarticulação da base aliada no Congresso são o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e a medida provisória que fixa em R$ 300 o salário mínimo. Se quiser evitar mais essas derrotas políticas, o governo terá de se mobilizar para derrubar na Câmara cinco requerimentos de convocação de Meirelles, além de seis propostas de fiscalização e controle apresentadas pelo PFL para investigar as denúncias contra o presidente do BC. Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto terá de se empenhar para impedir a aprovação de um mínimo maior, que será proposto pelo relator André de Paula (PFL-PE). A artilharia do PFL contra o presidente do BC vai ter como base um dossiê com documentos sobre eventuais irregularidades cometidas por Meirelles quando comandava o BankBoston. "A partir de agora vamos mostrar direitinho como atuava Henrique Meirelles na presidência do BankBoston", afirmou o líder do PFL, deputado Rodrigo Maia (RJ). Segundo ele, um dos documentos vai mostrar que na gestão de Meirelles no BankBoston eram oferecidas a clientes operações de remessas dinheiro para o exterior, semelhantes às detectadas na CPI do Banestado.

"Ele (Meirelles) cometeu crime eleitoral, crime em sua declaração de seu Imposto Renda e na remessa de entrada de recursos no Brasil. Estamos esperando que ele venha dar explicações. Não podemos ter um presidente do BC fujão", argumentou Maia. Anteontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou o status de ministro do presidente do BC, dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Meirelles, no ano passado.

Agora, ele é obrigado a comparecer à Câmara quando convocado, sob risco de cometer crime de responsabilidade. "Não trabalho com a idéia de que convocação de ministro cria crise no governo", afirmou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

A desarticulação do governo poderá impor nova derrota ao presidente Lula. O pefelista André de Paula está disposto a conceder aumento maior para o mínimo de R$ 300,00. Uma das emendas apresentadas à MP é a do líder Rodrigo Maia que propõe R$ 312, a partir de 1.º de maio último.

"É preciso reorganizar a composição política do governo", observou o líder do PT, deputado Paulo Rocha (PA). Apesar da desarrumação da base, Chinaglia está otimista. Em sua opinião, o teste importante para o governo é a aprovação integral da reforma tributária. "É na reforma tributária que vamos saber realmente quem é governo e quem não é", disse ele.

A escolha de um deputado de oposição para relatar a MP do salário mínimo foi mais um revés para o governo imposto pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Desde que assumiu o comando da Câmara, há cerca de três meses, Severino trabalhou para derrotar propostas do governo. As derrotas do Planalto, no entanto, não se limitam à Câmara. O Senado também impôs reveses importantes: anteontem, por exemplo, a Comissão de Infra-Estrutura aprovou a convocação do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, para explicar a proposta de transformar a Infraero em empresa de economia mista.