Título: Marcador genético antecipa diagnóstico
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Vida &, p. A15

Quando foi anunciado o seqüenciamento do genoma humano, em 1990, cresceu a expectativa que a medicina passasse por uma revolução e surgissem tratamentos personalizados baseados no DNA. Em 15 anos, percebeu-se que os efeitos reais da pesquisa básica seriam mais modestos. Só agora a medicina começa a incorporar alguns produtos derivados do Projeto Genoma Humano. Um deles é o de marcadores genéticos, termo que engloba métodos da genômica para realizar diagnósticos e prognósticos e dirigir tratamentos. Um dos campos que mais têm se aproveitado da técnica é a oncologia. Quando comparado ao tecido normal, o doente apresenta alterações em determinados genes, diz o pesquisador Luiz Fernando Lima Reis, do Instituto Ludwig de Pesquisa do Câncer. "Tais genes podem ter relação direta com a doença, mas também podem ser uma conseqüência."

Apesar de a hereditariedade responder por 5% a 10% dos casos de câncer, hoje um especialista, até no Brasil, olha o DNA em busca dessas mutações. Os campeões são os genes BRCA-1 e BRCA-2, localizados nos cromossomos 17 e 13, respectivamente. Normalmente, eles ajudam a conter o crescimento celular, mas, quando defeituosos, aumentam em até 80% o risco de tumor na mama e no ovário. Outro gene bem popular é o Mlh, no cromossomo 3. Ele ajuda a reparar o DNA e sua falta pode levar ao câncer de cólon.

Segundo Ricardo Brentani, presidente do Instituto Ludwig e do Hospital do Câncer, em São Paulo, saber a diferença entre o que é um estado biológico normal e o que é alterado ajuda a responder a perguntas de interesse clínico. "À medida que se conseguir padronizar a informação, as respostas começarão a aparecer."

Bancos dos tumores, com informações sobre os pacientes, são essenciais para fornecer a matéria-prima da pesquisa, assim como o investimento em tecnologia e especialização. O instituto, por exemplo, criou uma tecnologia que identifica só os genes ativos em "chips" de DNA, o que permitiu ao Brasil ficar em segundo lugar no ranking dos países que mais identificaram genes relacionados à doença.

PROGNÓSTICO

Uma das perguntas mais comuns que a genômica busca responder é como a doença evoluirá. O câncer envolve diferentes mecanismos moleculares do corpo e cada tipo apresenta características próprias, como a expressão de proteínas diferentes. Mesmo que visualmente dois tumores sejam semelhantes, geneticamente um deles pode ser mais agressivo. Por isso, a genômica tem se difundido nos laboratórios de patologia. "Com o perfil genético do câncer, sabemos que proteínas são produzidas e como lidar com o tumor", explica Fernando Soares, diretor do setor de patologia do Hospital do Câncer.

Com o prognóstico, é possível estudar um direcionamento da terapia, explica Carlos Alberto Moreira-Filho, professor da USP e diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein: "O alvo das pesquisas em genômica funcional é a criação de drogas para personalizar o tratamento de acordo com o perfil genético do paciente. O tumor não tem uma resposta-padrão."