Título: OMS apóia decisão do Brasil de recusar verba
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2005, Vida&, p. A21

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declara que a decisão de aceitar ou não uma contribuição dos Estados Unidos para a luta contra a aids "é uma escolha soberana de cada país" e evita dar sua opinião sobre se o Brasil optou pelo caminho mais adequado ao recusar US$ 48 milhões dos americanos para financiamento de projetos de combate à aids, conforme antecipou o Estado no dia 28. A decisão brasileira foi tomada depois que a Agência Nacional Americana para Desenvolvimento Internacional (Usaid) impôs uma condição: as organizações não-governamentais só receberiam a verba caso se comprometessem a não atuar em campanhas pelo reconhecimento da prostituição como profissão.

"Não temos nenhum tipo de regulamentação para que os países sigam um padrão ao receber doações de outros governos", explica Ian Simpson, porta-voz da OMS. De acordo com ele, no entanto, a própria agência de saúde da ONU conta com seus critérios para receber dinheiro de países ou empresas. "Não aceitamos dinheiro que seja condicionado a alguma atividade", informou o porta-voz. Ele reconhece, porém, que os países mais poderosos financeiramente usam os recursos e doações para tentar influenciar a agenda das organizações da ONU.

As organizações internacionais, por exemplo, conhecem há muito tempo o problema da dependência de recursos americanos. Há cerca de quatro anos, o Fundo da ONU para a População se viu em uma verdadeira crise ao ser informado pelos Estados Unidos que toda a contribuição financeira da Casa Branca seria cancelada. O motivo era o descontentamento do governo americano em relação aos programas da entidade sobre planejamento familiar, que, segundo Washington, abriam brecha para o aborto.