Título: País faz emissão de US$ 500 milhões
Autor: Adriana Fernandes, Regina Cardeal, Ricardo Leopold
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Economia, p. B1

O Brasil fez ontem uma captação de US$ 500 milhões, com emissão de títulos da dívida externa atrelados ao dólar, com prazo de vencimento em 2019. Apesar de haver sido realizada num dia de nervosismo do mercado, por causa dos rumores de perdas sofridas por um fundo, a operação foi considerada um sucesso pelo secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antônio Gragnani. Segundo Gragnani, a procura superou "em algumas vezes" a quantidade ofertada pelo governo. Segundo especulações do mercado, a demanda teria chegado a algo entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões. Além disso, a taxa paga ao investidor foi mais baixa do que a de outubro passado, quando o mesmo papel foi oferecido.

O bom resultado pode ser medido pelo prazo longo do papel, segundo Gragnani. "Vendemos um título de 14 anos e meio", disse. "Isso mostra a confiança dos investidores no Brasil." Sua avaliação é compartilhada pelo mercado. "Isso é um indicativo favorável de que o Brasil não vai ser um futuro inadimplente, como foi a Argentina, e o mercado se abre para captações de longo prazo", afirmou o presidente do Banco Fator, Manoel Horácio da Silva. "Espero que nada ocorra para reverter essa boa onda do mercado internacional."

Com esta emissão, o Brasil está muito próximo de ter captado recursos em volume suficiente para cumprir na totalidade suas obrigações externas este ano. De acordo com técnicos, o País precisa emitir mais US$ 1,1 bilhão para concluir sua programação de captações deste ano, de US$ 6 bilhões.

Os Global 2019 haviam sido emitidos, pela primeira vez, em outubro do ano passado, quando o governo brasileiro vendeu US$ 1 bilhão. A diferença é que, desta vez, o custo foi mais baixo - o que, na avaliação de Gragnani, reflete a melhora das condições da economia brasileira. Na emissão de ontem, liderada pelos bancos Goldman Sachs e Merrill Lynch, os papéis foram colocados a 100,375% do valor de face, resultando numa taxa de retorno para o investidor de 8,83% ao ano. Os valores foram melhores do que os obtidos na primeira captação do mesmo papel, realizada há sete meses. Na ocasião, o Global 2019 foi vendido com taxa de retorno de 9,15% e spread de 492 pontos-base (diferença de remuneração em relação aos títulos do Tesouro americano com vencimento de dez anos).

De acordo com os diretores da Área de Mercado de Capitais do Merrill Lynch em Nova York, Augusto Urmeneta e Max Volkov, a demanda chegou a US$ 3 bilhões. Eles comentaram que o Tesouro brasileiro estabeleceu, desde o início da operação, que o montante ficaria limitado a US$ 500 milhões "para manter o apetite do mercado pelo papel". Como a demanda rapidamente superou o valor fixado, disse Urmeneta, foi possível "trabalhar bem a alocação dos papéis".

A presidente da agência Standard & Poor's no Brasil, Regina Nunes, afirmou que a captação "é uma tentativa positiva do governo de sentir o mercado. É importante sentir o mercado antes de emitir volumes maiores. Não acredito que o governo tenha problema algum para captar o volume de US$ 1,5 bilhão que necessita para este ano. Se o Brasil captou (US$ 500 milhões) por preços melhores e por um prazo razoável, como 2019, faz todo o sentido que isso ocorra para melhorar suas reservas, ter mais liquidez ou alongar a dívida externa".

"Houve um interesse muito grande dos investidores", disse a diretora de Estratégia para Mercados Emergentes da Wachovia Securities, Siobhan Manning. O gestor de fundos para mercados emergentes da Biscayne American Advisors, Dario Pedrajo, espera que após o mercado digerir os rumores sobre o "hedge fund" que teria sofrido perdas com a indústria automobilística (ver página B10), os papéis brasileiros, "cujos fundamentos são positivos", se recuperem.