Título: Na OMC, governo é favorável à China
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2005, Economia, p. B5

O Brasil adota uma postura dupla em relação à polêmica sobre as exportações de produtos têxteis da China ao mundo. Após 40 anos, as cotas de importação existentes no setor foram derrubadas, em 1.º de janeiro. No Brasil, o setor privado se queixa do aumento das importações do produto e pede a imposição de salvaguardas. Na Organização Mundial do Comércio (OMC), o governo adota uma posição favorável aos argumentos chineses, que não querem debater de novo o acordo que estabeleceu o fim das barreiras, apesar da pressão de alguns governos. Negociadores do País explicam que o governo não pensa só no setor têxtil quando trata do assunto na OMC. Brasília não quer abrir um precedente para que, no futuro, as mesmas barreiras e táticas que hoje proliferam contra os têxteis da China sejam usadas contra produtos agrícolas brasileiros.

A OMC negocia agora exatamente a liberalização dos mercados agrícolas. Mas, como ocorreu com os têxteis chineses, a melhor das previsões é que essa abertura ocorra no período de uma década. O Brasil não quer que, ao fim da transição, os países prejudicados peçam para debater de novo a abertura de mercados.

Nesta semana, Pequim bloqueou a inclusão de um item na agenda da OMC em que seria instalado um debate permanente sobre as exportações chinesas ao mundo. A idéia partiu da Turquia, Tunísia e Jordânia, que também sofrem com os produtos chineses.

Para o Brasil, esse mecanismo seria "perigoso", pois institucionalizaria um debate sobre um acordo já realizado e em vigor. Ainda assim, o País garante que a China não o consultou sobre a iniciativa de bloquear o tema. Brasília preferia que o assunto fosse levado a um debate informal e que cada país tratasse de seus problemas com a presidência das negociações ou com os chineses.

O governo garante que a coincidência de posições na OMC com a China não significa rejeição à imposição de salvaguarda contra os têxteis chineses. Para tanto, o Departamento de Defesa Comercial teria de investigar e avaliar até que ponto os produtos chineses prejudicam os produtores brasileiros. Se comprovados os danos, o País teria direito de impor as barreiras, mesmo diante das leis da OMC.