Título: Interior do CE vira braseiro por 3 meses
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Vida&, p. A26

FORTALEZA - Todo ano é a mesma coisa. De outubro a dezembro, o Cariri cearense vira um braseiro, com queimadas que se estendem praticamente por todos os municípios da região. É o período em que os agricultores preparam a terra para o plantio. Para eles, a queimada é uma alternativa eficiente, rápida e de custo baixo quando comparada a outras técnicas. Por outro lado, causa prejuízos ambientais incalculáveis. Além de provocar incêndios em áreas de preservação, as queimadas desequilibram o ambiente e deixam o solo pobre em nutrientes. Crianças lotam os hospitais por causa de crises alérgicas em decorrência da fumaça.

A "broca" - como o camponês a chama - é uma prática antiga, feita nas culturas de subsistência de arroz, milho e feijão.

De tão arraigadas à cultura local, no município do Crato, as queimadas são autorizadas pelo Ibama sob critérios técnicos, como os aceiros, por exemplo, que impedem a propagação do fogo além dos limites estabelecidos. Ao receber autorização para a queimada, o agricultor é orientado sobre a melhor maneira de executar o trabalho.

O agricultor Luís Pereira, de Iguatu, no centro-sul do Ceará, faz "broca" quase todos os anos. Mas recentemente aprendeu com técnicos a reduzir o malefício. "Faço fogo em pequenos montes. Antes eu queimava tudo", conta.

O coordenador estadual do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Kurtis François, diz que as orientações não são suficientes. "Há agricultores trabalhando com esse método em serras que, pela capacidade da vegetação, podem ser aproveitadas para outras atividades, e não a agricultura de subsistência. Por falta de espaço para plantar, estão invadindo áreas nobres utilizando o fogo", alerta.

Desde 2003, o Ibama monitora os focos de calor no Ceará por satélites. Para prevenir incêndios, brigadas ficam a postos no Parque Nacional de Ubajara e na Floresta Nacional do Araripe.