Título: São Roque, um dos paraísos ambientais
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Vida&, p. A26

Encravada em um vale no interior do Estado de São Paulo, a cidade de São Roque é um dos 1.306 municípios apontados pelo IBGE como "paraísos" ambientais brasileiros, locais cujos habitantes não sofrem com os efeitos da modificação natural negativa. Com uma população de aproximadamente 70 mil pessoas, ela chama a atenção pela extensa área de remanescentes da mata atlântica, que cobrem 40% da cidade, totalmente protegidas por lei - e integrante das reservas tombadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como Patrimônio Natural da Humanidade.

"De qualquer lugar da cidade você vê o verde", conta o psicólogo e professor universitário José Joaquim Carlassara, de 51 anos, todos vividos em São Roque. Apesar de trabalhar na capital do Estado, a apenas 60 quilômetros de distância, ele sempre retorna para sua terra natal. "Não fico em São Paulo. Aqui, em São Roque, encontro qualidade de vida."

De acordo com o diretor municipal de Planejamento e Meio Ambiente, Roberto Godinho, a cidade possui, sim, alguns problemas ambientais, como a falta de saneamento básico para toda a população. Porém, existem projetos em andamento para resolver a carência que, segundo ele, não chegam a afetar a comunidade. "Não podemos ser ingênuos e dizer que não existem problemas. Porém, não temos poluição no ar e na água (que abastece a cidade) e possuímos uma porcentagem alta de cobertura vegetal, fator determinante para garantir o clima agradável na estância turística", afirma.

São Roque é totalmente servida pela coleta de lixo e, há mais de cinco anos, pelo recolhimento nas casas de material para reciclagem. O caminhão - que no princípio tocava chorinho para chamar a atenção dos moradores - passa por toda a zona urbana e, por enquanto, não atende somente às áreas do município com menor densidade demográfica. "Hoje em dia, quando o caminhão não passa, as pessoas ligam para a prefeitura para cobrar o serviço", contra Godinho.

As escolas municipais não possuem aulas formais de educação ambiental, apesar de um projeto ter sido discutido na gestão anterior. Contudo, o diretor de Planejamento acredita que o ambiente limpo da cidade favorece a criação e a manutenção de hábitos ambientalmente corretos por parte da população. "O processo não precisa ser dolorido para dar certo."

O psicólogo Carlassara também acredita que a consciência ambiental já está inserida na mentalidade são-roquense e os moradores, em sua maioria, sabem o que deve ser feito para manter a natureza. "Ao ver o vizinho agindo direito, daqui a pouco você também vai pintar o muro, tirar o mato, ajeitar a casa. O mesmo funciona ao contrário: locais degradados não recebem muito investimento."