Título: Exército faz advertência contra possível desintegração do país
Autor: AP, AFP e EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Internacional, p. A14

LA PAZ - Em meio à tensão política que antecedeu a decisão do presidente boliviano, Carlos Mesa, de promulgar ou não a controvertida Lei de Hidrocarbonetos, o Exército boliviano pronunciou-se pedindo unidade e calma a todos os setores do país. Durante um discurso numa cerimônia militar em La Paz, o comandante do Exército, general César López, dirigiu uma clara advertência a "todos os políticos, movimentos sociais, aos poderes Legislativo e Executivo e ao povo em geral" para que evitassem que a polêmica sobre a lei e as crescentes reivindicações de autonomia regional levem o país a desintegrar-se. "Sentimos que estamos no caminho da desintegração, por isso temos de dar meia-volta nessa situação e preservar nossa democracia", declarou López, durante seu discurso na principal guarnição militar de La Paz.

Por seu lado, o ministro da Defesa Gonzalo Arredondo afirmou que a principal preocupação das Forças Armadas era a de que "em algum momento dessa crise" a umidade nacional fosse afetada. As manifestações das autoridades militares sobre unidade se dão no mesmo momento em que as divergências políticas em torno da Lei de Hidrocarbonetos acirra os debates de cunho separatista entre as populações do altiplano boliviano - predominantemente indígena - e da planície boliviana, descendentes dos colonizadores europeus, na maioria.

A influente Câmara de Indústria e Comércio de Santa Cruz de la Sierra - cidade da planície onde são mais fortes as vozes do separatismo -, por exemplo, criticou ontem pesadamente a nova lei, que qualificou de estatizante. "Nos preocupa a falta de responsabilidade do presidente Mesa de não assumir com decisão seu compromisso de atrair investimentos do exterior", disse o presidente do organismo, Gabriel Dabdoub.

Após a decisão presidencial de abster-se de propor modificações, permitindo a promulgação da lei, um dos principais líderes oposicionistas bolivianos, Evo Morales, anunciou que promoveria modificações em cinco pontos da legislação. Segundo o deputado Santos Ramírez, dirigente do partido de Morales - o Movimento Ao Socialismo (MAS) -, disse que seu movimento proporia emendas pelas quais o Estado boliviano se beneficiasse com royalties de 50% que seriam pagos pelas companhias estrangeiras que exploram o gás e o petróleo do país e tenha a atribuição de pra fixar preços do gás nos mercados interno e para a exportação.

O MAS reivindica também a garantia de que a industrialização dos derivados de gás e petróleo seja feita na própria Bolívia. Santos disse também que seu partido quer tornar sem efeito uma proibição que pesa sobre a companhia estatal de petróleo boliviana de comercializar seus produtos no mercado internacional.