Título: 'Não matamos civis', diz governo usbeque
Autor: AP, Reuters e DPA
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Internacional, p. A16

ANDIJAN, USBEQUISTÃO - O procurador-geral do Usbequistão, Rashid Kadyrov, negou ontem que as forças de segurança do governo tenham matado civis na repressão de um levante popular na sexta-feira em Andijan, no leste do país. Kadyrov disse que "apenas" 169 pessoas morreram, das quais 32 eram militares e só 5 civis, mortos por extremistas. A declaração contradiz depoimentos de testemunhas e de uma ativista de defesa dos direitos humanos em Andijan, que descreveram um banho de sangue quando os militares dispararam contra milhares de manifestantes, entre as quais um grupo de militantes armados, mulheres e crianças. A oposicionista Nigara Khidoyatova, líder do Partido dos Camponeses Livres, disse ontem ter compilado os nomes de 745 pessoas mortas na repressão, das quais 542 em Andijan e 203 em Pakhtabad, cidade vizinha. "Muitas vítimas receberam tiros na nuca", afirmou Nigara. A Anistia Internacional exigiu ontem uma investigação internacional.

A crise começou quando milhares de pessoas - entre as quais parentes de 23 empresários detidos, acusados de financiar um grupo fundamentalista - invadiram na sexta-feira uma prisão e soltaram cerca de 2 mil presos. Depois, tomaram prédios públicos. Autoridades dizem que extremistas fizeram 50 reféns. Depois, forças usbeques dispararam com tanques e metralhadoras contra a multidão.

"Não houve um único civil morto pelas forças do governo", contestou o procurador-geral Kadyrov, em entrevista à imprensa. Enquanto o procurador falava, o presidente Islam Karimov surgiu na sala. "Há uma ampla campanha na mídia, especialmente no Ocidente, para mostrar que o Usbequistão é uma tirania, que aqui se dispara contra inocentes", disse Karimov, elevando a voz. "Quem iria atirar em pessoas desarmadas? Não existem tais pessoas em nenhum governo no mundo."

Nas horas subseqüentes à repressão o governo bloqueou o acesso da imprensa a Andijan e as transmissões de TVs estrangeiras para o país. A TV estatal só mostra a versão oficial, de que criminosos invadiram prédios públicos. Os necrotérios em Andijan estão protegidos pela polícia, que impede a aproximação de repórteres.