Título: Pedreira, o sem-voto, atribui acusação à sua fama
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2005, Nacional, p. A7

Misto de político sem votos, dono de jornal pouco conhecido e operador de empresas interessadas em fazer negócios com o governo, Antonio Pedreira disse ao Estado que Maurício Marinho, ex-diretor de Material dos Correios, quis se "cacifar" ao incluir seu nome na lista dos que formariam suposta rede de corrupção na estatal. "Como sou um homem público conhecido e converso com todo mundo, esse funcionário dos Correios deve ter usado meu nome para se mostrar importante", afirmou. Para realçar sua afirmativa, Pedreira disse que, atualmente - além de tocar o seu jornal, Jornal do Brasileiro, cujo logotipo é muito parecido ao do Jornal do Brasil, com circulação quinzenal e notícias que, segundo a publicação, são "imperecíveis" -, dedica seu tempo à reestruturação do PPB. "Quando reestruturá-lo, vou sair candidato pela Bahia (Estado onde nasceu), porque a Bahia teve apenas dois candidatos a presidente da República pelo voto direto: o doutor Rui Barbosa e eu." Pedreira foi candidato a presidente em 1989. Teve 86.107 votos na eleição vencida por Fernando Collor e ficou atrás do candidato Marronzinho, que obteve 238.408 votos.

Na versão de Marinho, gravada em fita de vídeo, o folclórico Pedreira seria a ligação indireta de políticos do PMDB no esquema montado em estatais para o desvio de dinheiro. Entre os políticos peemedebistas que o funcionário afastado cita estão o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Paulo Lustosa, e o presidente dos Correios, João Henrique. Marinho também diz que Pedreira é amigo do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ).

"Conhecer uma pessoa não quer dizer que seja amigo dela ou que a influencie", afirmou Pedreira, que ultimamente tem tocado seus negócios a partir de Brasília. "Por isso, acho que esse rapaz dos Correios quis se passar por uma pessoa que conhece gente importante."

Pedreira disse também que visitou Marinho nos Correios porque uma de suas funções como empresário é fazer contatos em órgãos do governo. E contou que em 1993 negociou seu PPB com o então presidente do PPR, Paulo Maluf. No mesmo ano, o PPR, sucessor do PDS, com o PP e o PRP, estes dois últimos inexpressivos, formaram o PPB. Em maio de 2003 o PPB perdeu o B e passou a ser o PP. Pedreira pôde retomar sua legenda.

Em 1990, Pedreira tentou eleger-se senador pelo Amapá. A exemplo de outros políticos, como José Sarney (PMDB), transferiu seu título (que era do Rio) para o novo Estado às pressas. Teve votação insignificante. Desde que Lula foi eleito, em 2002, Pedreira tenta se aproximar dele. Na única entrevista coletiva que Lula concedeu, há 15 dias, lá estava Pedreira. Não fez nenhuma pergunta, mas conseguiu aparecer na TV várias vezes.