Título: Força-tarefa vai fazer auditoria em 300 contratos dos Correios
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2005, Nacional, p. A7

Uma operação conjunta entre a comissão de sindicância e auditores da Controladoria-Geral da União (CGU) vai promover uma varredura em cerca de 300 contratos firmados nos últimos 12 meses pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e fornecedores. O período corresponde ao tempo de gestão do ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração dos Correios Maurício Marinho e de outros dois dirigentes da empresa, Antônio Osório Menezes e Fernando Godoy, afastados das funções.

A Polícia Federal também está cruzando informações para tentar confirmar conexão entre o grupo que agia nos Correios, a quadrilha desbaratada pela Operação Vampiro - a máfia que desviava dinheiro fraudando licitações para fornecimento de hemoderivados ao Ministério da Saúde - e indícios de corrupção encontrados no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e em outros órgãos do Ministério da Previdência.

Entre as licitações que já tinham data marcada para abertura de envelopes, só foi cancelada uma: a que trataria da compra de medicamentos, negociada em acordo coletivo entre os funcionários e a empresa, e que resultaria no gasto de mais de R$ 60 milhões por ano, num contrato de duração prevista de cinco anos. As propostas seriam abertas no próximo dia 25 e, de acordo com a direção dos Correios, não havia nenhum indício de irregularidades.

O cancelamento foi decidido porque Marinho havia participado das negociações. A maior parte dos R$ 7,3 bilhões gastos no ano passado pela empresa foi destinada ao pagamento de serviços e material de fornecedores dos Correios.

FORÇA-TAREFA

Com o escândalo envolvendo Maurício Marinho, já são sete os inquéritos abertos este ano nos Correios por uma força-tarefa formada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. Todos eles estão relacionados a suspeitas de corrupção descobertas em licitações para compra de material ou desvio de conduta de funcionários.

A direção dos Correios encaminhou ontem à tarde os documentos que foram requisitados pelos procuradores e pelo delegado da PF que investigam o caso. Entre os papéis estão a lista de freqüência no prédio onde Maurício Marinho despachava, o cadastro telefônico e as agendas dos três funcionários do setor onde se suspeita que a propina era acertada.

Os documentos chegaram ontem à noite à força-tarefa e devem servir de base para dois procedimentos: diligências que devem ser feitas ao longo das investigações, com possíveis mandados de busca e apreensão, e identificação dos autores da gravação em fitas de vídeo.

ARAPONGAS

A polícia suspeita que sejam dois os autores das fitas de vídeo e que eles pertençam à chamada comunidade de informações. O estilo e o enquadramento da gravação não deixam dúvidas, de acordo com a polícia, de que são arapongas experientes, cuja motivação ainda é um mistério. Na Polícia Federal especula-se, no entanto, a possibilidade de que se trate de motivação política ligada a um setor da área militar interessado em escancarar a corrupção e causar desgaste ao governo.

O delegado Luiz Flávio Zampronha de Oliveira, responsável pelo inquérito, recebeu carta branca do diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para ir fundo nas investigações.

Depois de uma conversa com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Lacerda teria comentado com os policiais que vão integrar a equipe que a Polícia Federal fará exatamente o que deve fazer, ou seja, chegar aos responsáveis pelo que talvez seja o maior esquema de corrupção incrustado na máquina do governo federal.