Título: Seca provoca quebra de até 70% no Sul
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2005, Economia, p. B12

A estiagem de quatro meses fez do Rio Grande do Sul o maior responsável pela redução da safra brasileira. O fenômeno atinge também outros Estados da região, como o Paraná. Em dezembro, quando a chuva começou a faltar, o Rio Grande do Sul previa colocar no mercado 14 milhões de toneladas de soja e milho. Em maio, no fim da colheita, o cálculo está reduzido a cerca de 4,2 milhões de toneladas, uma quebra de 70%. No Paraná, o último levantamento da Secretaria da Agricultura aponta uma quebra de 18,76% na safra de grãos, baixando dos 30 milhões de toneladas projetados inicialmente para 23 milhões. Os produtores paranaenses já tiveram perdas de R$ 2,33 bilhões. Há dois anos, o agronegócio gaúcho vivia um período de euforia, com índices inéditos de produtividade, preços em alta e dólar valorizado. A estiagem do ano passado conteve o entusiasmo, mas o preço da saca de 60 quilos de soja, que chegou aos R$ 52, compensou a maior parte das perdas.

O bom momento acelerou a demanda e fez os fornecedores de máquinas e insumos reajustarem preços. Para plantar a lavoura deste ano, os agricultores pagaram mais. Depois foram atingidos pela seca. Ao mesmo tempo, os preços das commodities agrícolas, influenciados pela boa safra americana, despencaram. Além disso, a cotação do dólar baixou aos níveis de 2002, retirando a lucratividade das exportações.

"Deu tudo errado", resume o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Ezídio Pinheiro, citando, ainda, o novo contratempo dos agricultores gaúchos, novamente causado pelo clima. A chuva, agora em excesso, ameaça acabar com o que havia restado das lavouras. "Há agricultores que perderam 85% da soja por falta e que estão perdendo os outros 15% por excesso de água", diz o presidente da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai (Cotrimaio), Antônio Wünsch.

Os produtores paranaenses também podem ter mais prejuízos por causa da estiagem que castigou boa parte do Estado. Os preços dos produtos estão baixos e as vendas, devagar. Além disso, muitos desistiram de plantar o milho-safrinha, que teve a projeção de 1,1 milhão de hectares reduzida a 889 mil. E mesmo quem se decidiu a plantar já tem prejuízo. Pelo menos 135 mil hectares (15,3%) estão totalmente perdidos.

Os mais prejudicados são os produtores de soja, que perderam 3,13 milhões de toneladas - 25,25% do projetado inicialmente - e amargam prejuízo de R$ 1,54 bilhão. Para completar, o preço dos produtos não contrabalança as perdas. Por isso a maioria está armazenando e torcendo pela recuperação internacional. Na safra passada, 57,3% da soja já estava vendida. Agora, o volume está em apenas 33,9% dos grãos comercializados. O algodão, que no fim de maio do ano passado já tinha 87% da produção vendida, chegou agora a 40,7%. O milho é o que apresenta a melhor relação, mas mesmo assim foram vendidos até agora 32,2% da produção, ante 40,9% na safra passada.