Título: Armas de fogo mata mais os jovens
Autor: Iuri Pitta
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Metrópole, p. C6

Levantamento da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) mostra uma tendência consolidada de queda nas taxas de homicídio no Estado de São Paulo desde 2000. Entretanto, o Mapa da Violência de São Paulo, lançado ontem na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), revela que os jovens paulistas continuam sendo as principais vítimas desse crime e o uso de armas de fogo está em alta. "Há uma série de ações públicas e da sociedade civil que ajudou a reduzir a violência e isso tem de ser comemorado. Mas essa queda não significa que o problema não exista", explicou o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, um dos autores do estudo. "O que é preciso agora é dar maior prioridade a medidas que aumentem a inserção do jovem na sociedade, para ele não correr o risco de se envolver com o crime."

Usando dados do Ministério da Saúde, os pesquisadores levantaram o total de assassinatos registrados entre 1993 e 2003. O pico da violência ocorreu em 1999, quando 15.810 pessoas foram mortas no Estado. A partir daí, os índices diminuíram a uma média de 5% ao ano até 2003. Nesse ano, os homicídios caíram para 13.903. Esse número, porém, é 50,8% superior aos 9.219 casos registrados em 1993.

DESPROPORÇÃO

Se há motivos para comemorar essa queda nos números globais, ainda é preocupante a situação dos jovens entre 15 e 24 anos. O Mapa da Violência mostra que essa faixa etária é a mais vulnerável aos homicídios. Apesar de os jovens representarem 19,4% dos 38,7 milhões de paulistas em 2003, eles estiveram relacionados a 41% dos casos ocorridos naquele ano. Na comparação da taxa de homicídios entre os jovens paulistas - 76 por 100 mil habitantes em 2003 - com a de países, ela só é menor do que a da Colômbia, em uma lista de 67 nações, incluindo o Brasil, 5.º colocado.

"Essa população é a que mais mata e mais morre, principalmente em crimes fúteis", explica o diretor científico do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção ao Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud), Guaracy Mingardi. "O desafio é integrar o jovem à sociedade e dar-lhe uma perspectiva de vida, mostrar que não há só aquela realidade em que os problemas são resolvidos a bala."

Para o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública, só o trabalho conjunto entre diferentes esferas de poder público e sociedade civil pode atacar esse problema de frente. "É preciso um conjunto de experiências. Cidades violentas geralmente têm três características que precisam ser enfrentadas: desigualdade social, falta de empregos formais e população jovem, que é a mais atingida por essas duas situações."

Outro aspecto preocupante levantado pela Unesco é o uso de armas de fogo em assassinatos. Cada vez mais se usa mais esse tipo de modalidade para cometer os homicídios, segundo a pesquisa. Em 1998, primeiro ano analisado, 45% dos crimes eram cometidos com armas de fogo. Seis anos depois, esse porcentual subiu para 68,8%. Entre os jovens, essas armas são responsáveis por 4 de cada 10 mortes de pessoas entre 15 e 24 anos.