Título: Disputa por vaga na ONU assusta Annan
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Nacional, p. A11

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, está preocupado com um possível racha que pode ocorrer dentro das Nações Unidas diante das candidaturas do Brasil, Alemanha, Japão e Índia - o chamado G-4 - para os eventuais novos lugares no Conselho de Segurança da entidade. O Estado apurou que, na última segunda-feira, Annan chamou esses países e representantes de outros governos liderados pelo Paquistão e China para uma reunião privada em seu gabinete em Nova Iorque. A mensagem foi clara: os países precisam dialogar para encontrar uma solução sobre os eventuais candidatos aos postos, caso o Conselho de Segurança, de fato, seja ampliado. "Há resistências contra todos esses quatro candidatos, assim como há governos que os apóiam", afirmou o secretário-geral adjunto da ONU, Shashi Tharoor. Segundo ele, além de países que dão seu aval ao Brasil, "há também críticas na América Latina" em relação à candidatura do País.

Brasil e seus três aliados na corrida diplomática para ocupar os novos lugares apresentaram, há uma semana, uma proposta de resolução sobre a reforma do Conselho de Segurança. Seriam dois lugares permanentes para países africanos, dois para os asiáticos, um para a América Latina e um para a Europa. Além de Brasil, Alemanha, Japão e Índia, portanto, ainda estariam abertos dois postos, mas apenas na África.

A idéia dos quatro candidatos é que haja uma votação ainda em junho sobre se, de fato, os países estão de acordo em avançar com a ampliação do órgão mais importante da ONU. O calendário proposto ainda prevê que, em julho, seria aberta a fase de inscrição para os países que acreditam que podem ser candidatos. Caso haja mais países que lugares disponíveis pela proposta, uma votação ocorreria e um governo precisaria obter dois terços das indicações dos membros da ONU, ou seja, mais de 120 votos.

Para que o processo fosse completado, precisaria ainda ocorrer uma votação para emendar a Carta da ONU, dos anos 40. Isso exigiria a aprovação mais uma vez de mais de dois terços dos países. A ampliação somente começaria a vigorar quando esse acordo fosse ratificado pelos governos, o que poderia levar alguns anos.

Para um grupo de países que está sendo denominado como Uniting for Consensus (Unindo por Consenso), a reforma somente poderia ocorrer se houvesse uma aceitação geral pelos candidatos. Esse grupo é liderado, entre outros países, pelo Paquistão, que não quer ver a Índia com poder de veto. Pequim, que teme o ingresso do Japão no Conselho, também tem tido participação nesse grupo.

Mas, na avaliação de Tharoor, o sentimento geral é de que a ONU não conseguirá chegar a um consenso sobre os novos membros permanentes do Conselho de Segurança e que uma votação terá de ocorrer. "Annan está consciente de que há divisões entre os países, mas está pedindo para os que governos conversem. Ele está ansioso por um acordo, mas também já disse que a reforma não deve deixar de ocorrer caso não haja um consenso", completou o secretário-adjunto.