Título: Lamy: vitória ajuda emergentes
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Internacional, p. A12

GENEBRA - Uma eventual vitória do "não" no referendo sobre a Constituição da União Européia amanhã na França teria um impacto negativo não apenas para o Velho Continente, mas até mesmo para o Brasil. Essa é a avaliação do recém-eleito diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), o socialista Pascal Lamy, que ontem falou com exclusividade ao Estado. O francês dedicou as últimas semanas para participar "dia e noite" da campanha pelo "sim" em seu país. "Já estou até mesmo perdendo a voz de tanto discursar e tentar convencer as pessoas a votar a favor da Constituição", afirmou Lamy, que ocupou por cinco anos o posto de comissário europeu para o Comércio.

Segundo o novo responsável pela OMC, uma vitória do "não" retardaria o processo de construção do bloco europeu. "Isso, portanto, teria conseqüências que seriam sentidas em todo o mundo, principalmente entre os nossos maiores parceiros nas regiões como América Latina, África ou Ásia", disse.

"Eu aposto que se perguntássemos no Brasil sobre a aprovação ou não da Constituição da União Européia, haveria uma grande maioria que diria "sim" à Carta. Para o Brasil, assim como para outros países emergentes do mundo, é importante ter uma Europa mais forte para consolidar o sistema multilateralista", disse Lamy.

"Eu já disse várias vezes em meus discursos que deveríamos ouvir o que o restante do mundo tem a dizer sobre essa Constituição e sobre o que representaria uma União Européia (UE) mais forte. Os franceses precisam entender que a Europa tem um impacto que vai além dos países que fazem parte do bloco", afirmou o ex-comissário de Comércio.

Na avaliação de Lamy, a vantagem de 10 pontos porcentuais que os defensores do "não" têm registrado nas pesquisas de opinião pública dos últimos dias não tem relação com o conteúdo da Constituição.

"As pessoas estão descontentes na França com o governo e querem mandar um recado claro a quem comanda o país. Por isso digo que esse referendo, ainda que seja sobre um tema europeu, está contaminado por questões domésticas", completou o socialista.