Título: Pentágono admite casos de desrespeito ao Alcorão
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Internacional, p. A14

WASHINGTON - Pouco mais de uma semana depois de ter pressionado a revista Newsweek a desmentir uma nota de sua seção Periscope sobre um episódio no qual um soldado americano teria jogado uma cópia do Alcorão na privada, o Pentágono admitiu que o livro sagrado do Islã foi desrespeitado em pelo menos cinco ocasiões diferentes por soldados ou interrogadores americanos em Guantánamo. "Não encontramos nenhuma prova crível de que um membro da força tarefa em Guantánamo tenha jogado o Alcorão na privada", disse o general Jay W. Hood, comandante da força no enclave militar americano em Cuba, sobre as investigações que conduziu nas últimas duas semanas. O inquérito foi provocado pela divulgação, pela União Americana de Liberdades Civis (ACLU), de uma série de documentos sobre abusos cometidos contra presos e sua fé religiosa em Guantánamo. A Newsweek retirou formalmente a notícia e pediu desculpas, depois que a informação provocou mortes e tumultos de rua que se estendem até hoje em países muçulmanos.

Hood informou que investigou 13 denúncias. Segundo ele, em alguns casos o tratamento abusivo do Alcorão não foi proposital. Embora não tenha revelado detalhes, alegando que o inquérito prossegue, o general disse que os abusos envolveram maneiras de tratar o Alcorão consideradas sacrílegas, tais como um não-muçulmano tocar o livro ou carregá-lo e depositá-lo em lugar abaixo da cintura de quem o manipula.

Hood, porém, deixou várias perguntas sem respostas. Mas o pouco que disse foi o bastante para chamuscar a credibilidade do porta-voz do Pentágono, Larry DiRita. No dia 17, reagindo à denúncia da Newsweek, Di Rita afirmou que o Pentágono não tinha nenhuma informação crível para investigar abusos do Alcorão em Guantánamo.