Título: Holanda teme o efeito dominó
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Internacional, p. A14

Os holandeses estão temendo o efeito dominó, após o "não" francês de domingo. Os eleitores da Holanda votam amanhã em referendo apenas consultivo, mas, dependendo do comparecimento, o resultado poderá ser endossado pelo Parlamento. Na Holanda há um movimento crescente pela rejeição da Constituição da União Européia, apesar de o país ter-se mostrado um dos mais europeus entre os 25 membros da UE. As pesquisas indicavam até ontem que 59% do eleitorado estava disposto a votar não, constatando-se uma influência do resultado do referendo na França.

O deputado holandês Thys Berman, defensor do sim, reconheceu ontem que, após a votação na França, os defensores holandeses da Constituição européia, incluisive ele, estavam desanimados. Para os mais radicais defensores do sim, o voto de domingo corresponde "ao beijo da morte" da França na Europa.

Se a tendência for confirmada, a Constituição européia será rejeitada por dois países fundadores da UE em quatro dias, o que poderia significar um golpe mortal à Carta e a confirmação de uma crise sem precedentes no velho continente.

O chefe do grupo parlamentar liberal, Jozias van Aartsen, disse que se os holandeses votarem no sim ganharão peso em relação aos grandes países da Europa, principalmente a França. Os defensores do não se preocupam principalmente com a perda de influência dos 16 milhões de holandeses na Europa ampliada.

A Grã-Bretanha, por sua vez, prepara-se para assumir a presidência de uma União Européia mergulhada na mais séria crise desde sua existência. O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, indicou que pode cancelar o referendo previsto para o próximo em seu país. Blair solicitou "um tempo de reflexão", durante o qual pretende consultar os outros 24 governantes europeus antes de adotar qualquer iniciativa. Uma pesquisa divulgada ontem revelou que 57% dos britânicos também estão dispostos a votar não.

O presidente francês, Jacques Chirac, busca uma solução para o problema político interno, escolhendo uma nova estratégia política e econômica para acompanhá-lo nos últimos 22 meses de governo, mas o problema europeu, principalmente o eixo franco-alemão - até agora o motor da Europa - encontra-se também entre suas principais preocupações, debilitado pelas urnas na Alemanha e França. Ele marcou um encontro com o chanceler Gerhard Schroeder no dia 10, antes de reunir-se com seus colegas do Conselho da Europa, no dia 16, para decidir o que fazer.