Título: PF busca na seguradora Assurê pistas sobre caixinha do PTB
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Nacional, p. A8

A Polícia Federal está convencida de que só há um caminho para abrir a caixa- preta do suposto esquema de arrecadação de propinas no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) em favor do PTB do deputado Roberto Jefferson (RJ). É preciso rastrear as empresas que indicaram a corretora Assurê Internacional de Corretagem de Resseguros para intermediar operações com estatais ou empresas de economia mista. Os investigadores estão agora levantando nomes de pessoas ligadas a Furnas, Infraero e Eletronuclear - companhias que teriam recorrido à Assurê, pertencente ao corretor Henrique Brandão, amigo e suposto sócio de Marcus Vinicius Vasconcelos Ferreira, genro de Jefferson. Os policiais esperavam que o ex-presidente do IRB Lídio Duarte, que ontem prestou um depoimento de três horas, confirmasse as suspeitas ligando a arrecadação de propinas no IRB ao PTB. Mas Duarte negou. Ele classificou de "fantasias" as informações publicadas pela revista Veja - que, com base numa fonte não revelada, afirmou que Duarte teria sido pressionado por Henrique Brandão para levantar no IRB uma "mesada" de R$ 400 mil mensais para o PTB.

Duarte afirmou que se afastou da presidência do órgão por razões políticas. Considerado liberal e adepto da privatização de toda a área de seguros no País, ele disse que deixou o cargo ao sentir que o IRB fora alijado do processo de discussão de uma nova política para o setor. Contou, ainda, ter sido nomeado por influência do deputado José Carlos Martinez (PTB-PR), já morto, e revelou que Jefferson pediu a indicação de afilhados para o IRB - embora sem sucesso, assegurou.

Duarte afirmou ter explicado ao deputado que a única porta de entrada no instituto era a do concurso público.

Foi em sua gestão, admitiu Duarte, que a Assurê passou a atuar nas operações de resseguros do IRB. Ele garantiu, porém, que a corretora dividia o mercado com outras 22 empresas do gênero. Negou que a Assurê dominasse 54% dos contratos com estatais ou empresas de economia mista, como chegou a ser divulgado.

O controle exercido por acionistas sobre as atividades do instituto, segundo Duarte, impediria a arrecadação de propina. Ele explicou também que as corretoras que atuavam no IRB poderiam ser legalmente indicadas pelas empresas interessadas nos contratos de resseguro. Os policiais que investigam o caso acham as relações do IRB com as corretoras estão numa espécie de limbo, onde a falta de critérios legais joga quase todas as ações no campo das relações de mercado.

É por essa razão que a suspeita sobre a arrecadação de uma suposta "mesada" ao PTB se transferiu para dirigentes de empresas que, por meio de tráfico de influência, poderiam ter indicado a Assurê ao IRB. Duarte foi ouvido no inquérito como testemunha, o que o obriga dizer a verdade e a não se omitir. A polícia vai checar os detalhes de seu relato.