Título: PIB baixa o astral e mercado gosta
Autor: Patrícia Campos Mello, Regina Cardeal, Mário Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Economia, p. B1

O decepcionante crescimento do PIB do primeiro trimestre, anunciado anteontem, teve reflexos surpreendentes no mercado financeiro. A Bovespa fechou em forte alta de 2,66% ontem, o risco país caiu 3,04%, para 414 pontos, e o dólar encerrou o dia cotado em R$ 2,414, uma queda de 1,19%. Por causa do crescimento fraco, parte dos analistas aposta que o Banco Central vai começar a reduzir os juros em julho ou agosto, antes do que era esperado. E isso animou os investidores. "Parece contraditório - o crescimento do PIB está caindo e aumentam os investimentos em bolsa", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra. "Mas trata-se de uma aposta na queda antecipada dos juros." Mas, segundo analistas, o principal combustível do otimismo de ontem foi mesmo o bom humor externo. Os juros dos Treasuries de 10 anos (títulos da dívida dos EUA) recuaram, com a expectativa de que o Fed (banco central americano) também estaria perto de interromper as elevações dos juros. Embora alguns economistas americanos estejam preocupados com a acentuada alta do custo da mão-de-obra, que pressiona a inflação. "Com a taxa dos Treasuries caindo, há um estímulo para os investidores buscarem maior rentabilidade em papéis de países emergentes", diz Maristella. O Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, fechou em alta de 0,88%. O C-Bond teve alta de 0,24%.

O risco país também teve um dia positivo, fechando em baixa de 3,04%. O indicador foi influenciado por uma nota do Banco J.P. Morgan a investidores. Na nota, o banco afirmava que o Brasil está fazendo grande progresso para alcançar o status de "investment grade" para sua dívida externa. Embora o banco tenha dito ser improvável que o Brasil atinja o status de grau de investimento em menos de cinco anos, a nota foi interpretada de forma positiva.

Já o dólar, após dois dias de alta, fechou em queda. A moeda americana havia subido por causa das declarações de Rodrigo Azevedo, diretor de Política Monetária do BC, interpretadas como uma possibilidade de intervenção no câmbio. "O mercado estava estressado", diz Maristella. "Mas aí o ministro Palocci sinalizou que não haveria medidas para evitar a queda da moeda americana, o BC não interveio no mercado e o dólar acalmou." A queda do dólar no Brasil também refletiu o desempenho da moeda americana no mercado internacional. Após alcançar máximas históricas anteontem, com as incertezas políticas na União Européia, o dólar fechou em queda. Ontem, em Nova York, o euro era negociado a US$ 1,2271, ante US$ 1,2160 do dia anterior, e o iene era negociado a 108,27 por dólar, ante 108,79.

Para Maristella, o dólar deve continuar caindo nos próximos dias, caso o BC não intervenha no mercado. Já o desempenho da bolsa é mais incerto. "Acho que a alta da Bovespa é decorrente de uma recuperação de perdas, não se trata de uma tendência", diz. "No médio prazo, os investidores vão analisar os fundamentos e, dado o fraco crescimento do PIB, não vão apostar na Bolsa."

Renata Heinemann, economista do Pátria Banco de Negócios, é mais otimista. Para ela, o desempenho da bolsa vem acompanhando a alta externa das commodities, principalmente aos olhos do investidor estrangeiro.