Título: Ministro italiano sugere volta da lira
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2005, Internacional, p. A22

A União Européia sofreu ontem um terceiro golpe em menos de uma semana: um importante membro do governo italiano aconselhou a Itália a abandonar temporariamente o euro - a moeda única européia. "A Itália deve refletir sobre o abandono temporário do euro e uma dupla circulação do euro com a lira", disse o ministro de Assuntos Sociais, Roberto Maroni, um dos expoentes da separatista Liga do Norte, que dá apoio irrestrito ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

A proposta, feita na esteira da rejeição da Constituição da UE por franceses e holandeses, teve o efeito de uma bomba no continente. Provocou perplexidade nos parceiros da Itália na União Européia e uma reação irada da Comissão Européia - o órgão executivo da UE, com sede em Bruxelas, na Bélgica - e derrubou novamente a cotação do euro em relação ao dólar.

"Isso é impossível de acontecer", reagiu logo um porta-voz da presidência da CE, exercida pelo português José Manuel Durão Barroso. "O euro veio para ficar", insistiu ele.

Em entrevista ao jornal La Repubblica, Maroni, um antieuropeu convicto, responsabilizou o euro pelo mau desempenho da economia italiana nos últimos dois anos.

"Não seria melhor retornar ao sistema de dupla circulação?", indagou, para argumenta em defesa da tese: "Na Europa há o exemplo notável da Grã-Bretanha, que cresce e se desenvolve mantendo a própria moeda."

Diante do grande mal-estar causado em Bruxelas, Berlim, Madri, Paris e outras capitais européias, o chanceler italiano, Gianfranco Fini, apressou-se em lançar um pouco da água fria na fervura. Fini, líder da extrema-direita italiana, negou categoricamente que Berlusconi esteja pensando na possibilidade de deixar a zona do euro - hoje composta por 12 países da UE.

"Essa é uma opinião pessoal de Maroni, não do governo italiano", assegurou.

A sugestão do líder da Liga do Norte ocorre num momento em que o Banco Central Europeu (BCE), com sede em Francfurt, na Alemanha, empenha-se numa campanha para convencer as populações dos 12 países que adotaram a moeda para sua política em favor da estabilização de preços.

"O abandono do euro a esta altura seria uma política economicamente suicida para a Itália", disse o economista-chefe do BCE, Otmar Issing. Ele classificou de demagógica a proposta de Maroni.

Em Berlim, um porta-voz do governo criticou a entrevista de Maroni e garantiu que a Alemanha não abrirá nenhum debate sobre uma eventual reintrodução do marco.