Título: Congresso pede segurança para sessão
Autor: Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2005, Internacional, p. A14

O presidente do Congresso da Bolívia, Hormando Vaca Díez, fez um apelo ontem aos manifestantes para que não hostilizem, nem impeçam hoje a chegada de parlamentares ao Congresso. E pediu às autoridades policiais que dêem garantias de segurança para a realização da sessão, que analisará o pedido de renúncia do presidente Carlos Mesa. Ele indicou que provavelmente a sessão será realizada em Sucre, a capital histórica do país - 640 quilômetros ao sul - por falta de segurança em La Paz. Ontem, em Santa Cruz de la Sierra, o cardeal Julio Terrazas se reuniu com os líderes dos protestos para encontrar uma saída para a crise.

RUMORES

Em meio à crise, rumores de que militares assumiriam o poder num golpe de Estado circularam entre os manifestantes, o que aumentou ainda mais a inquietação nas ruas. Já partidários do Movimento Ao Socialismo (MAS) voltaram a cogitar a possibilidade de o líder cocaleiro Evo Morales assumir a presidência da Bolívia. Na opinião deles, isso aconteceria se as eleições gerais realmente fossem convocadas.

Segundo analistas políticos, Morales é um forte candidato e tem o apoio de 25% do eleitorado. Ele é mais um entre os representantes dos quíchuas e dos aimarás, as duas etnias indígenas que somam quase 60% da população.

A última onda de protestos começou depois que o Congresso aprovou uma nova lei de energia, que eleva os impostos das companhias estrangeiras que exploram sobretudo o gás boliviano. A Lei de Hidrocarbonetos atinge diretamente a companhia brasileira Petrobrás, que já investiu cerca de US$ 1 bilhão no gasoduto Brasil-Bolívia. A quebra de contratos deve ser contestada judicialmente pelas empresas internacionais. Como o presidente Mesa se recusou a sancionar a nova lei, ele acabou perdendo apoio tanto dos parlamentares quanto dos manifestantes.

O desgaste de Mesa tornou-se ainda maior com a sensação de falta de pulso para lidar com a retomada dos protestos em várias cidades bolivianas.

Partidos radicais de esquerda ampliaram os bloqueios nas estradas e passaram a defender a bandeira da nacionalização do gás. Na segunda-feira, Mesa viu-se obrigado a abandonar o Palácio de Governo por causa da fúria dos manifestantes e só voltou para anunciar sua renúncia.

Mesa era vice-presidente de Gonzalo Sánchez de Lozada e assumiu o poder em outubro de 2003, quando uma onda de protestos tomou conta do país por causa dos planos de exportar gás através do Chile. Mais de 70 pessoas morreram nos confrontos com a polícia. Isolado, Mesa espera a hora de deixar seu posto, orgulhoso por ter evitado o derramamento de sangue durante seu mandato.