Título: Afilhado de Jefferson na Eletronorte pede demissão
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Nacional, p. A10

Pressionado pela gravidade da crise que já separa o PTB da base de apoio do governo Lula, o presidente da Eletronorte, Roberto Salmeron, responsável por um orçamento anual de R$ 900 milhões, pediu ontem demissão "em caráter irrevogável". O gesto - consumado em carta de três linhas entregue à ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff - foi combinado com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) durante o final de semana. "Todos os que são do PTB e foram indicados pelo Roberto Jefferson vão deixar os cargos", afirmou Salmeron após um discurso de 40 minutos, durante o qual se despediu dos cerca de 40 funcionários que superlotaram um auditório da Eletronorte, em Brasília. Economista, professor, 63 anos, homem de confiança de Jefferson e da Executiva nacional do PTB, Salmeron ficou um ano e 24 dias no comando da Eletronorte. Ele afirmou que sai para evitar que a empresa seja contaminada pela crise política.

"A Eletronorte é maior do que eu e tem que sair da crise. E a crise sou eu", disse, explicando que, de todos os membros do Conselho de Administração da estatal, apenas ele foi indicado pelo PTB e exercia o cargo por influência política. "Valeu a pena? Valeu demais. Foi um ano de aprendizado. Saio mais rico em conhecimento."

A decisão, segundo ele, vinha sendo amadurecida desde que o ex-chefe do Departamento de Compras e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, apareceu na gravação de um vídeo detalhando o funcionamento de um esquema de corrupção na estatal, envolvendo Roberto Jefferson e o PTB. A entrevista de Jefferson, divulgada ontem, apenas precipitou um ato que ele havia discutido com a direção do partido.

"Estou alegre e satisfeito. Quem está num cargo político entra num dia e sai no outro", explicou. Na entrevista, fez questão de citar um a um os funcionários com os quais conviveu enquanto presidiu o Conselho de Administração da estatal. "Vamos nos encontrar no aeroporto, nos supermercados, nas festas de São João, nos seminários e, quem sabe, no restaurante da Ilda", disse, arrancando risos da platéia, por referir-se ao bandejão que freqüentava com os funcionários da Eletronorte.

INTIMAÇÃO À VISTA

Para Salmeron, a saída é uma "volta à alma, sem as insinuações da imprensa. Sinto alegria por deixar a empresa em paz". Na Eletronorte, ele administrou um orçamento anual de R$ 900 milhões, mas destacou que as ações de sua gestão estiveram voltadas para o corte de gastos, entre eles os de viagens e seminários. A grande obra de sua administração eram as obras de conclusão da segunda etapa da hidrelétrica de Tucuruí, orçada em R$ 1,3 bilhão.

Assim que terminou o discurso, Salmeron foi ao Ministério das Minas e Energia despedir-se de Dilma Rousseff. Entregou a carta de demissão e repetiu parte do longo discurso que havia feito pela manhã.

A ministra aceitou a demissão sem ponderações ou apelos para que ficasse. Embora aliviado politicamente, o ex-presidente da Eletronorte terá problemas pela frente.

Citado por Maurício Marinho como um dos homens que agiam pelo PTB junto a órgãos do governo federal, Salmeron deve ser intimado a prestar depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público. "O Marinho já desmentiu tudo na Polícia Federal. Nunca operei com ninguém. Meus cargos no governo sempre foram técnicos", afirmou Salmeron.