Título: IPCA desaba e pode frear o juro
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Economia, p. B1

O índice veio abaixo da média das estimativas do mercado financeiro (0,54%) e reacendeu esperanças de interrupção da trajetória de alta dos dos juros básicos. De 52 analistas consultados pelo Estado, 48 acham que a taxa Selic fica inalterada na próxima reunião do Copom. Para quatro, a chance maior é de elevação de mais 0,25 ponto porcentual, para 20% ao ano. Além da queda da inflação, a estagnação da produção industrial e do PIB justifica essa expectativa.

De janeiro a maio, o IPCA acumula alta de 3,18%, mais da metade da meta perseguida pelo Banco Central (BC) este ano, de 5,5%. Em maio, apesar da desaceleração de reajustes de itens importantes, como alimentos e eletricidade, a gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE observou que não houve queda generalizada de preços e os chamados preços livres seguem em altas generalizadas.

Por outro lado, os combustíveis registraram deflação no mês: álcool (-5,42%), gasolina (-0,64%) e gás de cozinha (-0,46%). Produtos alimentícios, como carnes (-1,08%), arroz (-2,35%) e açúcar cristal (-1,90%) também mostraram quedas.

Mas Eulina chamou a atenção para a inflação persistente no próprio grupo de alimentos (0,65% em maio, ainda que abaixo do 0,81% de abril), por causa de pressões de custos em matérias-primas como o trigo ou problemas na safra do milho.

Segundo Eulina, os reajustes que vêm sendo apurados pelo IPCA estão sendo provocados por repasses de custos. "Os aumentos atuais têm maior evidência de custos que de demanda", disse, acrescentando, porém, que a demanda mais aquecida por alguns produtos, como eletrodomésticos, favorece os repasses.

Para junho, segundo ela, a única pressão prevista é o reajuste de 7,99% nas ligações de telefones fixos para celulares, a partir de amanhã. O IBGE não faz previsões para a taxa, mas as contas do Departamento de Economia do Bradesco apontam que o IPCA de junho cairá para 0,35%.

O Bradesco divulgou também um ranking da inflação de 12 meses, até maio, em 12 países. O Brasil, com 8,05%, só perde para a Venezuela (17,4%) e está perto da Indonésia (7,4%), mas muito distante da Coréia do Sul (3,1%).

Apesar da alta taxa em 12 meses, a projeção do banco é que a inflação de 2005 possa ficar até "ligeiramente abaixo" de 6%, já que da conta dos 12 meses ao fim deste ano estarão fora picos importantes, com o de julho de 2004 (0,91%).