Título: PF e Ministério Público querem punição exemplar para Edemar
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Economia, p. B8

A Polícia Federal espera concluir em breve o inquérito que apura as fraudes cometidas na quebra do Banco Santos, de propriedade do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. O delegado Ricardo Saad, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, confirmou ontem por meio da assessoria de imprensa da PF em São Paulo que 13 diretores da instituição já foram ouvidos no inquérito e indiciados nos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, prestação de informação falsa, contabilidade paralela e formação de quadrilha. Como os demais executivos, Edemar também deve ser indiciado. Uma fonte próxima à apuração das irregularidades afirma que são grandes as chances de o ex- banqueiro ter a prisão preventiva decretada. De acordo com a fonte, o objetivo é tornar o caso do Banco Santos exemplar. O Banco Santos foi liquidado extrajudicialmente há um mês pelo Banco Central, deixando um rombo de R$ 2,236 bilhões. O BC interveio no banco em novembro e seus técnicos encontraram várias fraudes e indícios de crimes contra o sistema financeiro. Desde dezembro, o Ministério Público Federal investiga as operações do Banco Santos, sob suspeita de gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. Em março, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar as fraudes, pouco depois de seqüestrar os bens do ex-banqueiro.

Durante o processo de intervenção do BC, foram descobertas várias operações obscuras. Concessões de empréstimos a empresas em dificuldades financeiras no Brasil foram feitas em troca de compra de papéis e investimentos em empresas sediadas em paraísos fiscais. Os bens mais vistosos do banqueiro, como sua mansão de R$ 50 milhões no Morumbi e a coleção de obras de arte, estavam em nome de empresas com sede em ilhas do Caribe. A mulher do banqueiro, Marcia Cid Ferreira, aparece como representante ou principal executiva no País da maioria dessas empresas de origem duvidosa.

O Banco Santos também realizou operações duvidosas com recursos do BNDES para financiamento a empresas e títulos rurais. Na derrocada, escorreram pelo ralo do banco de Edemar recursos de grandes fundos de pensão, de empresas do porte da Odebrecht e da Embraer e até mesmo do caixa do Partido dos Trabalhadores. O ex-presidente José Sarney, amigo íntimo do banqueiro, conseguiu salvar seus depósitos a tempo, às vésperas da intervenção.

O ex-banqueiro e ex-patrono das artes Edemar Cid Ferreira já enfrentou um indiciamento antes. Em abril, ele foi indiciado na mesma Polícia Federal por gestão fraudulenta e formação de quadrilha em um desdobramento do inquérito que apura o desvio de R$ 1,5 bilhão do INSS por meio de uma rede fraudadora armada pelo argentino Cesar de La Cruz Mendoza Arieta. Uma das empresas envolvidas nas operações de Arieta, a Vale Couros Trading, havia sido comprada pelo Banco Santos e posteriormente transformada em Vale Trading.

O objetivo da aquisição, realizada cinco meses antes da intervenção do BC no Santos, seria usar os créditos frios da Vale Trading para vendê-los a empresas em dificuldades financeiras. A operação serviria para maquiar os números do banco de Edemar. O total de créditos tributários da Vale Trading era estimado em R$ 436 milhões.