Título: PT muda tática e vai para o ataque
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2005, Nacional, p. A6

Entre segunda-feira, 6 de junho, quando foi publicada a primeira entrevista-denúncia de Roberto Jefferson, e o sábado, 11 de junho, um oceano passou sob as pontes do PT. É o que deixa transparecer o conteúdo das notas do partido para rebater as duas falas do ex-aliado. A primeira é tímida, curta e genérica - quase um aceno de quem joga na defesa, para o empate. A segunda mostra um partido indignado e agressivo, pronto para atacar. O Palácio do Planalto gostou da mudança, que deu ao partido uma mínima posição ativa, depois de passar dias encurralado pela crise. Para assessores de Lula, "o tom foi adequado". E a avaliação vale para a nota e para as declarações de José Genoino, presidente do PT, que apontou Jefferson com um réu que tenta se passar por vítima. "Finalmente governo e partido falam a mesma língua", disse um petista da área de comunicação da administração federal.

"Foi com surpresa e indignação que o PT tomou conhecimento das declarações de Roberto Jefferson", começava, acanhada, a primeira nota. E contestava as afirmações com o pé no freio ("O PT nega as declarações..."), dando uma evasiva explicação para o modelo das relações do PT com os partidos aliados. No terceiro e último parágrafo, um apoio genérico às investigações de órgãos federais e do Ministério Público - à época, PT e governo ainda não engoliam a CPI dos Correios.

Na nota de sábado, muita coisa mudou e o conteúdo subiu muitos tons. Primeiro, deu a Jefferson o tratamento de "senhor deputado", assumindo um tom de distanciamento crítico. O conteúdo é agressivo: "(Jefferson) repete as mesmas acusações falsas contra o PT, inventa situações e supostos detalhes e, como sempre, não apresenta provas - confessando, inclusive, não as ter". Afirma que ele "quer transformar uma mentira em verdade" e o rotula de "desesperado".

Em cinco dias, o partido resolveu se defender com ênfase e dizer claramente que nada tem a ver com o suposto pagamento do mensalão, além de negar que tenha relações com a Abin. Já não demonstra incômodo com a CPI dos Correios; e, no fim, fala grosso e promete processar Jefferson "por seus irresponsáveis atos".