Título: Fábrica de Itu começa a parar e empregados preparam protesto
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Economia, p. B7

Fornecedores suspendem entregas e falta matéria-prima para o funcionamento

A fábrica de cerveja do Grupo Schincariol em Itu, a 98 quilômetros de São Paulo, começou a parar ontem. Uma semana depois da prisão dos cinco donos e de quatro diretores, acusados de crime fiscal, a empresa continuava sem dirigentes para efetuar o pagamento dos fornecedores. A maior parte das entregas foi suspensa. Com a redução nos estoques de matéria-prima, pelo menos 30% dos 2.700 funcionários estavam sem função nos setores operacionais. A unidade de Itu é a maior indústria cervejeira da América Latina numa única planta. A possível paralisação total da fábrica preocupava o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Bebidas e de Alimentação da Região de Campinas, Manoel Martins. "O pessoal está ficando sem ter o que fazer." Segundo ele, quando ocorreram as prisões, a empresa já havia liberado o pagamento do adiantamento quinzenal dos funcionários, correspondente a 40% do salário. "Os outros 60%, que seriam pagos no fim do mês, não devem ser depositados", prevê. Martins lembrou que as contas bancárias da empresa também foram bloqueadas pela Justiça. Ele se reúne hoje, em São Paulo, com os presidentes da federação e da confederação dos trabalhadores do setor, para discutir o caso. O sindicato pretende realizar um ato público, esta semana, em Itu, contra o fechamento. "Será uma passeata ou carreata para mobilizar a sociedade. Se a fábrica parar, será um caos." O sindicalista vai propor à federação que seja marcada uma audiência com o governador Geraldo Alckmin, para levar a questão ao governo do Estado. "É preciso que se cumpra a lei, mas também que se encontre um meio de a empresa continuar funcionando." Segundo Moraes, isso pode ser feito sem prejuízo para as investigações do alegado esquema de sonegação fiscal. "Sabemos de outros casos de empresas autuadas pela Receita Federal em que não houve prisão nem paralisação", lembrou, referindo-se à Eagle, empresa controlada pela Companhia de Bebidas das Américas (AmBev), autuada em R$ 2,016 bilhões pela Receita Federal no primeiro trimestre deste ano. A fiscalização alegou que a empresa deixou de pagar Imposto de Renda (IR) sobre lucros obtidos no exterior. O grupo já tinha outras autuações pelo mesmo motivo. Com as novas cobranças do primeiro trimestre, a empresa acumula R$ 3,019 bilhões em autuações sobre lucros no exterior. A assessoria de imprensa da AmBev informou ontem que a empresa não se considera devedora dos valores levantados pela Receita. De acordo com a assessoria, os tributos cobrados já foram recolhidos na Espanha, país com o qual o Brasil tem acordo bilateral sobre tributação desde 1976. A empresa recorreu das autuações e ainda espera o julgamento definitivo. O grupo fez com que a pendência constasse do balanço divulgado na imprensa. Para a AmBev, não há como comparar os dois casos, uma vez que o da Schincariol tem cunho criminal.