Título: Petista, Karina ainda acredita no partido
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2005, Nacional, p. A4

Fernanda Karina Somaggio, a ex-secretária de Marcos Valério que denunciou as malas de dinheiro do mensalão, revelou ao Estado que sempre foi petista porque acreditava que com o PT "não tinha roubalheira". Ela disse que em 2002 votou em Lula e repetirá o voto sempre que ele for candidato. "Ainda acredito nele", disse ontem em São Paulo, pouco antes de embarcar para Belo Horizonte. Karina dá a receita para o PT voltar a erguer a bandeira da ética: "Expulsar as más pessoas e ficar só com os não comprometidos com o mensalão." Ela tem atestado o sucesso de sua atitude: aonde vai, não consegue dar dez passos sem receber cumprimentos. "Parabéns", ouvia a todo momento, no Aeroporto de Congonhas, ontem à noite. Até aqui, ela não ouviu reprovações pelas denúncias que fez.

Karina lista os candidatos em quem votou em 2002: Lula para presidente, Aécio Neves (PSDB) para governador, Patrus Ananias (PT) para deputado federal e a legenda do PT para estadual. Em 2004 voltou a carimbar a figurinha do PT: votou, para prefeito, em Fernando Pimentel (PT) e para vereador, na legenda do PV. Agora, ela não rejeita o PT e acha que o partido vai se reciclar a partir do escândalo do mensalão.

Diz que todo cidadão deve ser como ela: "Não esquecer os candidatos em que votou e cobrar posição deles." A principal cobrança, ela não tem dúvida, é por medidas objetivas para melhorar a educação. Sem traumas, ela revela a idade (tem 32 anos e uma filha de 8), confessa que pinta os cabelos (é originalmente loura) e não tem vergonha de usar óculos para astigmatismo. Ouve sempre que lembra a atriz Nicole Kidman de rosto, pela silhueta magra e pela altura (1m76). Mas não se liga em moda e cinema.

Muito sorridente, agora que a tensão se dissipou, ela garante estar tomada por um sentimento de missão cumprida. "Ninguém agüenta mais pagar imposto e não receber benefícios sociais", diz. Confessa estar em paz com sua consciência. "O brasileiro precisa aprender a defender os seus direitos. Acho que ajudei um pouco nisso."

Para ela, lições de cidadania não comportam discursos adjetivados e frases de efeito. "Não esperem isso de mim. Só quero denunciar o que vi de errado", diz. Ela quer cumprir o principal ensinamento que o pai, professor de biologia, a mãe, dona de casa, e o avô, tenente-coronel do Exército, lhe deram - não mentir nunca. E garante: "Se preciso, faria tudo de novo."