Título: Ex-secretária denuncia ameaça e confirma que Valério operava mesada
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Nacional, p. A14

Ela disse que havia voltado atrás ao prestar depoimento à Polícia Federal porque foi 'coagida' e estava com 'muito medo'

A ex-secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio voltou a acusar seu ex-patrão, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio da SMPB Publicidade e DNA Propaganda, de Belo Horizonte, de levar malas de dinheiro para reuniões políticas em Brasília. Karina fez a denúncia ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Na semana passada, em depoimento à PF, ela desmentira as declarações prestadas à revista IstoÉ Dinheiro. Ela disse no início da noite ao Estado que confirmará todas as declarações se for chamada a depor nas investigações sobre o mensalão. Karina relatou encontros suspeitos do ex-patrão com dirigentes petistas, principalmente com o tesoureiro Delúbio Soares e com o secretário-geral Sílvio Pereira. Segundo ela, Marcos Valério também tinha comunicação direta com o ex-ministro José Dirceu. Segundo seu advogado, Rui Pimenta, no mesmo dia em que as entrevistas foram veiculadas, Karina foi abordada na rua por um motoqueiro, que ameaçou seqüestrar sua filha de 11 anos se ela confirmasse as declarações à Polícia Federal. Karina contou que ficou "com muito medo". No depoimento à PF, então, resolver negar tudo. A ex-secretária disse que decidiu confirmar a versão inicial depois de ser orientada por seu novo advogado. Pimenta assumiu o caso na sexta-feira, substituindo Leandro Macedo Poli. "Hoje eu tenho um advogado para o qual eu contei tudo. Exatamente tudo que eu sabia e ele disse que eu não tinha motivo para mentir nem para deixar de falar", disse. "Eu precisava de uma pessoa para me dar um norte. Eu estava perdida e meu advogado (anterior) também".

MOTIVAÇÃO Karina, que se manteve reclusa desde a divulgação das entrevistas, afirmou que havia sido orientada por seu advogado a não falar com ninguém. Ontem, ela agradeceu a ajuda da imprensa para "limpar toda essa sujeira" e contou que resolveu falar por se sentir indignada com o que viu. "A gente vive num país em que metade da população passa fome. Não é justo, eu não acho justo as pessoas roubarem o nosso dinheiro. O dinheiro é nosso, somos nós que pagamos. Sabe, eu acho que o brasileiro tem de aprender a cobrar."

PROCESSO Karina está sendo processada por Marcos Valério, por suposta tentativa de extorsão. Ela julga que o processo é uma forma de intimidação e rebateu a acusação: "Não tem nada verdadeiro. Eu nunca liguei para ninguém, eu nunca pedi nada para ninguém. Mesmo porque eu trabalho, eu sou digna, não preciso disso", enfatizou. Karina disse estranhar a rapidez com que a ação impetrada por Marcos Valério tramitou na Justiça mineira. "Em termos de Brasil, foi extremamente rápido. Em menos de um mês já estava nas mãos do juiz." Na sexta-feira, Marcos Valério a acusou de "delito de furto qualificado, sob a modalidade de abuso da confiança". Na petição encaminhada à 6.ª Vara Criminal de Belo Horizonte, o advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva solicitou que a Justiça requisite à PF cópias da agenda e do depoimento prestado pela ex-secretária. Ele alega que um documento estampado na reportagem da IstoÉ Dinheiro a respeito do pagamento feito ao ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga é uma "prova inconteste" de furto, pois teria sido "subtraído pela denunciada dos arquivos da SMPB". Na entrevista à revista, Karina disse que a SMPB pagou R$ 150 mil ao ex-ministro. Pimenta da Veiga confirmou que prestava serviços advocatícios à empresa e que recebeu parcelas de R$ 75 mil em pagamento. Demonstrando tranqüilidade, Karina disse que está tentando retomar sua vida normal. Desde a divulgação das entrevistas, ela não compareceu ao trabalho, na empresa Gesol Geologia e Sondagens, no bairro Olhos D água, onde trabalha como secretária. Nesse período, ela se manteve reclusa em casa, com o marido e a filha, que só ontem voltou a freqüentar a escola. Durante esses dias, ela diz ter sido apoiada pelos "amigos de verdade".