Título: Em tom amargo, Dirceu se despede e diz que não é réu
Autor: Tânia Monteiro Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2005, Nacional, p. A7

Muito aplaudido, ex-ministro admite que sai triste, mas 'de mãos limpas, cabeça erguida e alma leve"

Foi uma despedida com tom de amargura. Batendo no peito várias vezes, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu foi aplaudido de pé por cerca de 500 pessoas, ontem à tarde, durante cerimônia de transmissão de cargo para Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. "Saio evidentemente triste, porque minha paixão, todos sabem, era eleger o presidente Lula e governar o Brasil", afirmou, com a voz embargada. Na véspera de assumir seu mandato de deputado na Câmara - com sua reestréia na tribuna marcada para as 15 horas de hoje -, Dirceu repetiu que deixa o Palácio do Planalto "de mãos limpas, cabeça erguida e com a alma leve." "Não sou réu", disse ele, mais tarde, em rápida entrevista. Diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de 22 ministros que assistiram à transmissão de cargo junto com a platéia, o ex-ministro referiu-se a Dilma como "camarada de armas e companheira de lutas" e fez um balanço das suas atividades à frente da pasta. Destacou, por exemplo, que conseguiu aprovar reformas paradas "há décadas" no Congresso e afirmou ter certeza de que a reforma política será aprovada. "Na Casa Civil, ainda responsável pela articulação política até o mês de fevereiro de 2004, demos apoio e sustentação ao governo que contou com uma maioria programática e uma maioria parlamentar", declarou. Depois, de improviso, disse que espera ter cumprido a tarefa "à altura do Brasil, do presidente Lula e do PT". Da mesma forma que no ato de desagravo a ele, realizado na sexta-feira, em São Paulo, o ex-ministro garantiu que mobilizará a população para defender o governo e o PT. "Volto a São Paulo, que é meu Estado, volto ao PT, que é meu partido, e volto às ruas de meu país." Em entrevista, Dirceu negou que sua saída da Casa Civil tivesse o intuito de abafar a crise. Depois, porém, afirmou: "A razão é política." Diante da insistência dos repórteres sobre as denúncias de pagamento de mesada aos deputados o ex-ministro disse: "Para se fazer uma acusação é preciso ter provas. Ele (Jefferson) afirma que não tem. Então, não se pode acusar impunemente".

ÚLTIMO ATO Na despedida, Dirceu recebeu muitos cumprimentos, entre os quais o do ator José de Abreu, que estudou com ele na PUC, nos anos 60. O último ato do ministro, publicado ontem no Diário Oficial, foi a assinatura de uma portaria que dispõe sobre a criação do Centro de Estudos da Subchefia para Assuntos Jurídicos para analisar temas polêmicos, como as Parcerias Público-Privadas. Durante todo o dia, ainda no Planalto, Dirceu atendeu muitos telefonemas de solidariedade.