Título: Medida dificulta importação de calçados do Brasil
Autor: Ariel Palácios
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2005, Economia & Negócios, p. B6

BUENOS AIRES - Empresários do setor de calçados da Argentina estão celebrando uma medida do Banco Central que dificulta a entrada de calçados do Brasil. O BC argentino anunciou que os importadores deverão comprar todos os dólares necessários para suas compras antes que seja realizado o embarque das mercadorias no país de origem. A aplicação da medida ocorre no meio das tensas negociações entre empresários dos dois países que tentam determinar qual será a cota de calçados brasileiros para o mercado argentino nos próximos anos.

A medida do BC - aplicada a todas as importações de bens de consumo - tem como objetivo deter a queda do dólar. A manutenção da cotação da moeda americana na faixa dos 3 pesos tem sido a obsessão do governo Néstor Kirchner. O valor alto do dólar facilita a competitividade das exportações e permite que o governo consiga ampla margem de benefícios com as retenções sobre as vendas para o exterior. Estas retenções permitem que Kirchner conte com amplo superávit fiscal.

Desta forma, por causa da determinação do BC, os importadores de calçados brasileiros não poderão contar com cartas de crédito que permitam operações a 90 dias. "A nova disposição do BC é suficiente castigo para os brasileiros", afirmou o presidente da Câmara da Indústria do Calçado (CIC), Alberto Sellaro.

A medida é conveniente para os empresários argentinos de calçados, que alegam serem vítimas de suposta avalanche de calçados brasileiros. Os calçados do Brasil, alegam, depredam as indústrias nacionais. "O Brasil pretende se apropriar do crescimento do mercado argentino como se tivesse o direito de exigi-lo", reclamou Sellaro. Por este motivo, há meses pede que os empresários brasileiros concordem em auto limitar de forma voluntária as vendas ao mercado argentino. Ao longo do mês foram realizadas várias reuniões entre os dois lados. No entanto, o impasse permanece.

A CIC pretende que a brasileira Abicalçados aceite voluntariamente a aplicação de uma autolimitação de suas vendas para o mercado local.

A proposta consiste em limitar as vendas brasileiras para apenas 10 milhões de pares anuais. Os brasileiros defendem para 2005 cota de 15,3 milhões de pares (mesmo volume vendido em 2004). A expectativa do governo Kirchner era que os dois lados chegassem ao volume de 12,9 milhões de pares como volume de consenso.

Se não houver acordo entre empresários dos dois países daqui a uma semana e meia, o governo argentino aplicará medidas restritivas unilaterais contra os calçados brasileiros.