Título: Ex-reféns implicam presidente eleito do Irã em seqüestro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2005, Internacional, p. A15

Quatro americanos que estavam na Embaixada dos EUA, tomada em 1979, garantem: Ahamdinejad era um dos seus captores

O governo americano informou ontem que está examinando com interesse os relatos de que o presidente eleito do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de 49 anos, participou da tomada de reféns na Embaixada dos EUA, em 1979, logo após a Revolução Islâmica. Quatro dos americanos que estavam na embaixada em Teerã afirmam ter certeza de que Ahmadinejad era um de seus captores e apontam a semelhança entre ele e um dos homens que aparece numa foto conduzindo um refém vendado (ver foto ao lado). Em entrevistas a TVs dos EUA, os militares reformados Donand Sharer e Bill Daugherty disseram estar convencidos de ter visto Ahmadinejad entre os líderes do seqüestro de 52 pessoas, que durou 444 dias e levou ao rompimento das relações diplomáticas entre EUA e o Irã. Uma das exigências dos radicais era que os EUA extraditassem o xá Reza Pahlevi, que governava ditatorialmente o Irã e fugira na iminência da Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.

Em Washington, o presidente George W. Bush disse a jornalistas que esperava uma resposta a essas indagações.

"Ele não era um sujeito muito simpático na época. Ele nos chamava de porcos e cachorros. É muito duro, é uma pessoa com quem não vamos nos dar bem", disse o ex-refém Sharer. Daughtery afirmou não ter dúvidas de que se trata da mesma pessoa: "A gente não esquece quem faz coisas como essas a você, a sua família e a seu país."

Mas assessores de Ahmadinejad e três iranianos que na época eram estudantes e tomaram parte no assalto à embaixada garantem não se tratar da mesma pessoa. O líder do seqüestro, Mohsen Mirdamadi, hoje um reformista opositor aos linhas-duras do regime clerical, disse à rede britânica BBC que Ahmadinejad não estava na embaixada. A BBC ouviu dois outros estudantes envolvidos na captura dos reféns e eles também negaram tratar-se do futuro presidente, que tomará posse em agosto.

"Ahmadinejad não estava entre os que ocuparam a embaixada após a revolução", afirmou Abbas Abdi, que ajudou a planejar a invasão. Um amigo de Ahmadinejad, Ali Sayed Nejad, disse que o presidente eleito fazia parte do grupo de estudantes envolvido, mas foi contra a tomada da embaixada americana e propunha tomar a soviética.

Os jovens que participaram da ação tomaram rumos bem diferentes. Alguns assumiram cargos no governo ou se elegeram deputados. Outros se tornaram reformistas radicais. Alguns destes passaram anos na prisão por confrontar o regime dos aiatolás.