Título: Perspectiva é de longo prazo, diz Bernardo
Autor: Rita Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

Ministério do Planejamento vai promover seminário com Delfim, Palocci e Jereissati

O Ministério do Planejamento vai realizar este mês um seminário para discutir a proposta de déficit nominal zero apresentada ao governo pelo deputado federal Delfim Netto (PP-SP). O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que Delfim também organiza um jantar na semana que vem com empresários, parlamentares e ministros, incluindo ele próprio, para dar andamento às discussões sobre o déficit. Segundo ele, o governo trabalha com a proposta de Delfim e outras alternativas para lidar com a questão fiscal, mas sempre em uma perspectiva de médio e longo prazo. "Ela não vem como uma proposta para reduzir miraculosamente juros e inflação. É um projeto de disciplina fiscal, de persistência e de fazer ajustes que não são incompatíveis com o que temos feito no último período. A proposta do deputado tem mérito e queremos discuti-la nesses termos", afirmou. "Não vamos é debater em julho para tirar alguma coisa em agosto, porque não é o objetivo."

O ministro reiterou que a proposta tem o mérito de pôr a discussão num nível mais elástico, sobre o que será feito no País em termos fiscais nos próximos quatro, cinco, seis anos. "Se chegarmos à conclusão de que a idéia ou parte dela deva ser transformada em ação do governo, isso vai acontecer. Se não, no mínimo faremos um debate sobre a questão fiscal."

O presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Glauco Arbix, está encarregado de organizar o seminário. Bernardo convidou, além de Delfim, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e os senadores Rodolfo Tourinho (PFL-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Bernardo disse que a inflação de junho medida pelo IPCA será próxima de zero, o que demonstra que os preços estão sob controle. "Esse cenário deve abrir espaço para o Banco Central antecipar o movimento de corte dos juros".

O ministro admitiu que sua pasta não tem qualquer ingerência sobre a política de juros, mas ressaltou que a avaliação sobre a queda da Selic é de sua assessoria econômica. "Nossa expectativa é de que comece o processo de corte dos juros", disse, sem esclarecer quando seria o início.

Segundo Bernardo, o governo projeta um IPCA para o ano de 6%, pouco acima do centro da meta, de 5,1%. No acumulado até maio, o índice está na casa do 8%, mas nos próximos meses, a inflação entra em uma rota ainda mais declinante.

De acordo com o ministro, a revisão para baixo do PIB mostrada no Relatório de Inflação do Banco Central também pode ajudar a antecipação do corte dos juros. No entanto, ressaltou, o grande indicador continua a ser a inflação. Bernardo participou do 15.º Congresso da Confederação das Associações Comerciais do Brasil.