Título: Embraer está fora de concorrência nos EUA
Autor: Roberto Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2005, Economia & Negócios, p. B10

A Embraer, com o seu modelo ERJ-145, está fora da concorrência ACS, da aviação do Exército dos Estados Unidos, para fornecimento de 58 jatos ao Pentágono. A frota transportará uma nova plataforma eletrônica de captação de dados de inteligência,vigilância e reconhecimento no campo de batalha. O valor total do contrato, que se estenderá até 2025, é estimado entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões. A Embraer vai submeter ao Pentágono, como opção, o birreator Emb- 190/195, o maior avião do catálogo da companhia em produção regular. A licitação foi vencida por um consórcio liderado pela Lockheed-Martin e integrado também pela Harris Corporation. À Embraer, terceira integrante da associação, caberia fornecer os aviões. O modelo ERJ-145 foi descartado devido a restrições de tamanho, peso, capacidade dos motores e refrigeração dos sistemas. Essas limitações são recentes. Surgiram como conseqüência de novas especificações do Pentágono para expansão da plataforma ACS, implicando a escolha de equipamento maior.

A Embraer vai reformular sua proposta submetendo ao Departamento de Defesa uma configuração do EMB-190/195, um birreator de porte equivalente ao do Boeing 737, cuja versão civil pode acomodar até 115 passageiros. A Força Aérea Brasileira (FAB) já havia solicitado da organização estudos de longo prazo para um arranjo do 190/195 destinado a missões de patrulha de grande duração.

"O arranjo atenderá, com sobras, a demanda do Exército americano", disse ontem um engenheiro aeronáutico da FAB.

A empresa brasileira mantém o programa para instalação de uma fábrica na cidade de Jacksonville, na Flórida. O empreendimento foi recebido com festa pelo governador do Estado, Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush. Jeb é apontado como provável candidato do partido republicano nas eleições de 2008.

A exclusão do ERJ-145 equivale a uma nova disputa de ofertas. A Lockheed-Martin reconheceu ontem, por meio de nota emitida em Littleton, Colorado, que estão sendo consideradas "outras proposições" para o avião que servirá de veículo da plataforma ACS. O porta-voz da Embraer nos EUA, Doug Oliver, declarou que "diante das definições técnicas, a companhia tem certeza de que o EMB-190/195 é a solução adequada".

O processo evolui em etapas. Na primeira fase, avaliada em US$ 879 milhões, cinco unidades completas deverão ser entregues de 2008 a 2010 para ensaios e testes. Ao final, com uma frota total de pelo menos 65 jatos, terão sido criados cinco batalhões aéreos. A encomenda prevê desenvolvimento e atualização permanente da tecnologia embarcada.

Na prática, serão substituidos dois sistemas em uso atualmente: o Guardrail, da força terrestre e o Aries III, da Marinha.

O ERJ-145, desclassificado da concorrência do Aerial Common Sensor (ACS), é utilizado amplamente pela FAB. Há cinco deles, sob a designação R-99A Guardião, realizando o trabalho de vigilância, coordenação, controle e alerta avançado. Outros três, sob a referência R-99B, atuam nas tarefas de sensoriamento remoto - inclusive as de coleta de informações estratégicas para a Defesa. O México é o único operador da versão para esclarecimento marítimo. A aviação da Grécia incorporou três unidades de padrão semelhante ao do R-99A.

Um R-99B da FAB deu apoio, em 2003, a uma operação das Forças Especiais do Exército do Peru destinada a resgatar um grupo de reféns em poder do movimento guerrilheiro Sendero Luminoso. Os equipamentos do avião rastrearam as comunicações dos rebeldes permitindo estabelecer a posição do grupo insurgente mesmo durante deslocamentos em meio à floresta.