Título: Genoino defende papel de Valério como avalista do PT
Autor: Mariana Caetano e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2005, Nacional, p. A4

O presidente do PT, José Genoino, afirmou ontem à noite que o aval dado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza ao empréstimo feito pelo PT no banco BMG não representou nenhuma ilegalidade nem aumentou a influência dele no governo. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Genoino disse que o aval de Valério foi aceito porque os bens do PT não eram suficientes para obter o empréstimo. Em uma hora e meia de programa, Genoino ouviu dezenas de perguntas diretas e evitou as respostas objetivas. Segundo ele, o PT "tinha condições de pagar e vai pagar essa dívida". E prosseguiu: "Nós pagamos os juros em 2003 e 2004. Só uma parcela atrasou e o avalista pagou", observou. Ele reiterou que "não houve influência do PT para os contratos empresariais de Valério". E afirmou que sempre se encontrou com ele no PT, nunca no Planalto.

Sob intenso tiroteio de seu próprio partido, Genoino defendeu-se afirmando que "essa relação com o avalista não provocou nenhum problema". Mas reconheceu que, daqui por diante, a direção do PT terá de ser "mais vigilante e criteriosa". O presidente petista respondeu aos que pedem a sua saída: "O cargo de presidente pertence ao diretório nacional."

CPI

Ele repetiu o chavão preferido do ex-ministro José Dirceu: "O PT não rouba e não comprou votos. Se houve falhas, temos de avaliar, dar as explicações e pedir desculpas à opinião pública." Quando ouviu uma pergunta sobre a coincidência entre os saques feitos por Valério e votações importantes no Congresso, reagiu: "Quem vai responder são as investigações."

Genoino disse que a CPI dos Correios "não é do governo, é do Congresso". Para ele, o fato de não ter sido respeitada a tradição de ter um presidente da oposição e um relator do governo, ou vice-versa, "não altera o caráter, a legitimidade e a autonomia da CPI".

O PT nunca recebeu denúncia de que havia um mensalão, disse ele. E repetiu à exaustão que a mesada não existe. Recorreu, mais uma vez, ao argumento de que não há provas que sustentem as acusações. Insistiu em que o PT de Minas não tem relação com a empresa Furnas, como denunciou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Ele disse que existe uma campanha para desacreditar o PT. Garantiu que o partido "não aparelhou o governo". "O PT não desconta nada nas folhas de pagamento", acrescentou.

Genoino garantiu que não conhecia Valério na época em que ele avalizou o empréstimo ao PT. Não considerou pouco usual que assinasse um empréstimo daquele porte sem fazer nenhuma pergunta: "Isso é normal no PT, assinar em confiança a outro dirigente. A partir do momento em que assino, eu passo a ser responsável."

TORTURA

O presidente do PT disse ter retirado uma lição do episódio: "É que esses contratos com bancos e empresas têm de ter um critério mais detalhado."

Ele ponderou que "em política não há ingenuidade" para, em seguida, sugerir que a oposição está sentindo "enorme satisfação" com as denúncias. E garantiu que o PT "não fez oposição radical, raivosa e extremada ao governo Fernando Henrique Cardoso".

Ele reagiu quando lhe perguntaram sobre a pressão que teria feito sobre o senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios, para que não facilitasse a quebra de sigilo de Valério. "É mentira, é mentira", gritou. De toda forma, ele se posicionou contra a quebra de sigilo do publicitário. "Quebra de sigilo é a partir do depoimento, nunca antes." Quando lhe perguntaram "quem é Marcos Valério", ele não respondeu. Disse apenas que "as investigações vão mostrar quem realmente ele é".

Genoino chorou ao falar sobre tortura e afirmou que continua morando no mesmo hotel: "Continuo com o mesmo patrimônio e sobrevivo com o salário do PT", garantiu.