Título: PT fez outro empréstimo com aval de Valério
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Nacional, p. A6

O Partido dos Trabalhadores tomou empréstimo de R$ 3 milhões do Banco Rural cinco meses depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Rural é apontado como caixa do mensalão, suposto esquema de pagamento a parlamentares em troca de apoio ao governo no Congresso. No contrato, firmado em 14 de maio de 2003 e divulgado ontem pelo site da revista Época, assinam como avalistas o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares de Castro, e o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, alvo maior da CPI dos Correios como operador do mensalão. O empréstimo foi quitado em 12 de agosto de 2004 por meio de cédula de crédito bancário emitida pelo Rural. O contrato desmente outra vez Valério, que afirmara inicialmente não ter relações comerciais com o PT. O próprio partido também é desmentido novamente, porque comunicou que o único negócio avalizado por Valério tinha sido o realizado com o BMG, de Belo Horizonte, no valor de R$ 2,4 milhões.

De acordo com o contrato com o Rural, todos os pagamentos devidos pelo emitente, o PT, "serão realizados" mediante débito em sua conta corrente e/ou de seus coobrigados, em razão de solidariedade passiva existente entre eles. O emitente e seus avalistas, previa o negócio, "obrigam-se a manter saldo suficiente para o acolhimento dos lançamentos".

Não foi a única transação entre PT e Rural. Em 21 de dezembro de 2004, a agremiação tomou R$ 5,16 milhões do banco cujos dirigentes foram ontem denunciados pela Procuradoria da República por gestão fraudulenta e formação de quadrilha.

SOLIDÁRIOS

Dois meses antes do primeiro negócio com o Rural, em 17 de fevereiro de 2003, o PT já havia feito o empréstimo junto ao BMG, aquele de R$ 2,4 milhões. O negócio foi avalizado por José Genoino, presidente do PT, Marcos Valério e Delúbio, todos na condição de devedores solidários. A SMPB, uma das agências do publicitário, chegou a honrar uma parcela de R$ 350 mil.

O PT também foi ao caixa do Banco do Brasil, apenas 10 dias depois de uma das operações com o Rural. Em 31 de dezembro de 2004, o BB liberou R$ 3,5 milhões ao partido. Dois outros negócios foram celebrados entre o PT e o Banco do Brasil - contratos de leasing que somaram R$ 15,8 milhões, para informatização dos diretórios do partido.

SAQUES

O empréstimo de R$ 3 milhões no Rural - avalizado por Delúbio e Valério - fecha o cerco ao PT, porque confirma o elo entre o banco que supostamente movimentou recursos do mensalão, o publicitário e o partido.

As duas agências de Valério, a DNA e a SMPB, movimentaram no Rural, desde 2003, o montante de R$ 369 milhões. Como pessoa física, ele movimentou R$ 1,68 milhão, no mesmo período. Em dinheiro, o publicitário sacou pessoalmente R$ 1,69 milhão da agência de Belo Horizonte, em cinco operações realizadas entre agosto de 2003 e junho de 2004.