Título: BNDES comemora investimento
Autor: Alaor Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, acredita que a crise política dos últimos meses não afetou a intenção dos investimentos no País. Os números do banco estatal de fomento referentes a junho, divulgados ontem, mostram aumento em todos os indicadores, especialmente nas consultas, a primeira das quatro etapas até a liberação de recursos. Segundo o banco, foram R$ 12,011 bilhões, com aumento de 225% sobre junho de 2004. "Como o BNDES é responsável por 60% dos financiamentos em investimentos de longo prazo no País, isso mostra a disposição de investir", observou. Os enquadramentos cresceram 105% (R$ 9,758 bilhões em junho), as aprovações 23% (R$ 4,968 bilhões) e os desembolsos tiveram aumento de 20% (R$ 4,903 bilhões).

Segundo Mantega, as intenções de investimento são de vários setores, com destaque para metalomecânico. Nos números, ressaltou, não estão incluídos dados referentes à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que já afirmou que vai apresentar projeto ao banco.

Apesar da recuperação nos últimos meses, Mantega foi cauteloso em prever se o banco conseguirá desembolsar os R$ 60 bilhões previstos em seu orçamento para este ano, já que ainda faltam R$ 40 bilhões, ou cerca de R$ 6,7 bilhões ao mês. "No segundo semestre há aumento da demanda", observou. Além disso, ele considera que a redução no spread, que o banco promoveu em meados do semestre passado para os empréstimos para o setor de bens de capital, também está atraindo mais empresas.

Mantega admitiu que parte do aumento nas consultas ao banco pode ser uma mera substituição de empréstimos externos, já que as empresas brasileiras estão preferindo quitar as dívidas em dólar, ao invés de renovar as operações. "É possível que isso esteja ocorrendo, mas não sei mensurar o quanto isso monta", afirmou. Ele considera, porém, que esse movimento "é saudável" já que as empresas estão substituindo risco em dólar por custos em moeda local.

DÉFICIT ZERO

O presidente do BNDES foi reticente quanto à proposta do deputado Delfim Netto (PP-SP) de déficit zero para as contas públicas. "A meta não pode ser alcançada através do corte dos investimentos na área social ou nos recursos aplicados em investimentos", defendeu. Mantega considera que a proposta defendida pelo ex-ministro ainda é muito preliminar. "Até agora não vi a proposta formal, por escrito, para ser discutida de forma mais detalhada."

Mantega prefere a opção de maior eficácia na gestão dos recursos públicos, em vez de corte ou congelamento dos gastos do custeio. Além disso, afirma, o governo deveria focar com mais ênfase alguns pontos da política monetária. Ele sustenta, porém, que o Banco Central (BC) deveria reduzir drasticamente o volume de títulos públicos indexados à taxa Selic, que hoje corresponde a mais de 50% da dívida pública mobiliária federal. "Com a estrutura atual de títulos públicos, o BC precisa elevar os juros em 3 a 4 pontos porcentuais para conseguir redução de 0,5 ponto na inflação. Nos Estados Unidos, basta um reajuste de 0,25 ponto porcentual para obter o mesmo efeito." Essa diferença no efeito sobre a inflação, afirma, deve-se à forte indexação da taxa Selic. "Aqui, com a elevação dos juros, o rentista (aplicador em títulos de renda fixa) acaba sendo favorecido."