Título: Genoino se oferece para depor na CPI dos Correios
Autor: Rosa Costa e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2005, Nacional, p. A6

O presidente licenciado do PT José Genoino pôs-se ontem à disposição da CPI dos Correios, antecipando-se a parlamentares da oposição que querem ouvi-lo esta semana sobre a prisão de Adalberto Vieira da Silva, ex-assessor de seu irmão, o deputado do Ceará José Nobre Guimarães (PT). Silva, foi preso sexta-feira no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ao tentar embarcar com R$ 209 mil numa valise e US$ 100 mil presos ao corpo, sob a cueca. No sábado, Nobre anunciou sua demissão e hoje o diretório cearense do PT discute seu afastamento da Secretaria de Organização. Genoino reiterou que continua "aturdido e perplexo" com o fato. "Não sou citado pela CPI, esse episódio não tem nada a ver comigo, nem de longe nem de perto, mas estou à disposição da CPI", afirmou. Ele disse torcer para que a Polícia Federal identifique o quanto antes os envolvidos na coleta e na tentativa de esconder o dinheiro.

Para oposicionistas, a CPI não pode ignorar a prisão, diante das "fortes suspeitas" de que os Correios eram uma das fontes do dinheiro desviado pelo esquema do mensalão. O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) acha que o depoimento de Genoino orientará a CPI na apuração da origem do dinheiro encontrado com Silva. Ele lembrou que o nome do irmão de Genoino está na agenda do publicitário Marcos Valério.

"A prisão do assessor e o nome na agenda derrubam a tese de que as ligações de Valério se restringiriam ao (ex-tesoureiro) Delúbio Soares", afirmou. "No mínimo, estamos diante de um caso concreto de tráfico de influência", disse a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), referindo-se ao fato de o irmão de Genoino ter acesso a Valério.

O deputado tucano Eduardo Paes (RJ) pedirá aos colegas que não se deixem contagiar pelos petistas, que "querem porque querem", segundo ele, restringir as suspeitas de corrupção a Delúbio. "A crise é grave, e não vamos compactuar com tentativas de brecar as apurações."

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), defendeu "mais cuidado" com novas denúncias, para que o excesso de investigações não prejudique os trabalhos. "Vamos examinar a agenda em que aparece o nome do deputado Nobre e todos os fatos novos, mas não podemos abrir demais o leque das investigações."

O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), vai cobrar a formalização da quebra de sigilo de Genoino, Delúbio, do ex-ministro José Dirceu e do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. Eles autorizaram a CPI a abrir suas contas na quinta-feira, antecipando-se à iniciativa da oposição.