Título: Para jurista, privilégio dos ricos está acabando
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2005, Metrópole, p. C1

"Quando a Igreja lançou uma campanha de opção preferencial pelos pobres, há algum tempo, brincava-se que a polícia já havia feito essa opção, e a Igreja estava atrasada", disse o jurista Dalmo Dallari, comentando o caso Daslu. "As megaoperações da PF mostram que os privilégios estão acabando. É uma resposta à sociedade, que sempre reclamou que os ricos eram imunes." O jurista discorda de muitos advogados que dizem que a PF age arbitrariamente. "Em todas essas ações, sempre havia fundamento, elementos de probabilidade de existência do crime." Ele também rebate o argumento de que as ações deveriam ser precedidas de convocação oficial para que os envolvidos prestassem esclarecimentos. "As operações têm que ser fulminantes. Se houver intimação para que as pessoas se expliquem (após investigação e verificação de indícios de crime), evidentemente haverá modificação dos elementos, destruição de provas e o crime passará por inexistente", explicou.

Foi esse, aliás, o motivo evocado pelo Ministério Público Federal para deflagrar a Operação Narciso ontem. Segundo o procurador Matheus Baraldi Magnani, o risco de que provas dos supostos crimes fossem eliminadas era muito grande. Na antiga sede da Daslu, na Vila Nova Conceição, agentes da PF encontraram caixas de notas fiscais com ordem para "incinerar".

Para o advogado Adriano Sales Vanni, porém, que atuou na defesa de um envolvido na Operação Anaconda, a PF age com truculência no cumprimento de mandados. "Parece que estão indo subir o Morro da Rocinha para trocar tiro com traficante."

Doutor em Direito Penal pela USP, o promotor Roberto Livianu disse que "a sensação de impunidade faz com que, às vezes, operadores do Direito queiram mostrar resultado com ações fortes". Segundo ele, há um pouco de sensacionalismo nas ações da PF. "Mas a Eliana Tranchesi na cadeia é um símbolo de que essas pessoas também são punidas."