Título: Erro de cálculo da oposição preservou o presidente
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Nacional, p. A8

O cientista político Ricardo Guedes, diretor da Sensus, tem uma explicação para a imunidade de Lula aos efeitos dos escândalos: a oposição, preocupada com a possibilidade de uma crise institucional, livrou sistematicamente o presidente de acusações mais diretas. Tanto falou, que a população acreditou. E Lula pôde renascer do que poderiam ser cinzas para reorganizar seu bloco. Segundo ele, nesta pesquisa Lula descolou definitivamente do PT: enquanto o presidente saiu com leves arranhões, o partido recebeu a culpa maior, em companhia da Câmara dos Deputados. Para Lula, as mudanças no ministério e no comando do partido podem significar a porta de saída da crise, embora arrojando carga ao mar.

Guedes acha que quatro elementos favorecem a blindagem de Lula: o aumento da oferta de empregos (que a população interpreta como diminuição do desemprego), a ação, embora com cunho assistencialista, dos programas sociais (já são 7,5 milhões de famílias atendidas), a percepção de que houve certa melhora na renda (provocada pelo aumento do salário mínimo) e, por fim, uma expectativa geral minimalista da população pobre.

Isso acalma o governo por enquanto, mas não é garantia para a reeleição de Lula. O cenário para 2006, segundo Guedes, continua confuso pela redução das ofertas de candidaturas e pelo tom plebiscitário que se instala.

Cada vez mais, quanto mais ao sul, quanto maior a escolaridade, quanto mais alta a renda e quanto mais urbano for o eleitor, menos ele gosta de Lula. No sentido contrário, quanto menor a escolaridade, quanto menor a renda, quanto mais interiorano e quanto mais ao Nordeste, mais ele gosta de Lula.

Visto assim, a eventual reeleição fica ameaçada porque o primeiro público é formador de opinião e vai influenciar o segundo; mas a regra básica da formação de opinião nem sempre funciona, diz Guedes.

Quando existem benefícios que impressionam o público influenciado - que é o que parece acontecer agora -, ele resiste a absorver a influência do andar de cima. O Brasil, lembra Guedes, tem 15% têm voto ideológico, 5% têm voto de cabresto e 80% de voto objetivamente pragmático.