Título: Até agosto, juros não devem cair
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

O mercado financeiro aposta que a taxa de juros será mantida em 19,75% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa hoje. A taxa tampouco deverá cair em agosto, segundo mostra a pesquisa semanal Focus, na qual o Banco Central ouve mais de uma centena de instituições financeiras. Ainda há dúvidas sobre o momento em que o Copom iniciará o tão esperado processo de queda dos juros. O mercado manteve em 18% a projeção para a taxa Selic ao final do ano. Por outro lado, a expectativa de inflação para este ano baixou pela nona semana consecutiva. A pesquisa mostrou uma redução de 5,72% para 5,67% da projeção do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2005. Há quatro semanas, o indicador estava em 6,16%. A nova estimativa também já está abaixo dos 5,8% projetados pelo BC para o IPCA deste ano no relatório de inflação divulgado no final de junho pelo BC. Apesar do recuo, a projeção atual do mercado ainda está acima da meta de inflação de 5,1% perseguida pelo Copom este ano.

O BC também registrou um pequeno recuo na projeção para o IPCA acumulado nos próximos 12 meses, que caiu de 5% para 4,97%. As projeções do IPCA para esse mês e agosto, porém, permaneceram inalteradas em 0,40%. As estimativas do IPCA para 2006 também permaneceram estáveis em 5% e continuam acima do centro da meta do próximo ano, fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 4,5%.

Além da inflação menor, o mercado também está mais otimista com a expansão da produção industrial e subiu mais uma vez as suas projeções de 4,29% para 4,40% para esse importante indicador econômico. O valor é superior à estimativa da própria Confederação Nacional da Indústria (CNI). No boletim Informe Conjuntural divulgado na semana passada, a CNI reduziu de 4,8% para 4,2% a projeção de crescimento da produção industrial em 2005.

As previsões de crescimento do PIB, porém, ficaram estáveis em 3% para este ano. Apesar da estabilidade, o valor estimado é inferior aos 3,4% projetados pelo BC. Para 2006, as expectativas de aumento do PIB não se alteraram e continuaram em 3,50%.

Apesar do real valorizado ante o dólar, os analistas do mercado projetam um superávit da balança comercial maior este ano. Na pesquisa, a projeção de saldo comercial subiu de US$ 35,95 bilhões para US$ 36,45 bilhões. Como os dados da pesquisa foram coletados na semana passada, contou para o aumento da projeção de saldo comercial o superávit semanal recorde de US$ 1,33 bilhão divulgado no período.

As projeções do mercado para o câmbio continuam em queda. Para o fim deste mês, as estimativas de câmbio recuaram de R$ 2,40 para R$ 2,38. Há quatro semanas, estas projeções estavam em R$ 2,49. As expectativas de câmbio para o fim do ano também caíram de R$ 2,60 para R$ 2,55.

O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-SP), Walter Machado de Barros, acredita que o BC deverá manter os juros estáveis em 19,75%. "Gostaríamos que a taxa baixasse, pelo menos 0,25 ponto porcentual. Contudo, o BC deverá manter seu conservadorismo pelo menos mais um mês, para baixar os juros com cuidado, a fim de levá-los para 18% em dezembro", afirmou. "O BC vai aguardar mais um pouco para verificar que a queda da inflação é uma tendência consolidada também em julho e agosto." Para Barros, enquanto a Selic cai de forma gradual, o governo poderia adotar medidas para estimular a queda dos juros no financiamento ao consumo, que para ele estão muito altos.